20 julho 2014

10 grandes filmes que não queremos ver de novo

postado por Manu Negri



Não é porque eles são chatos, trashs ou longos demais. Pelo contrário. Aqui, entram filmes controversos e que fizeram críticos bater palminhas de pé, mas que podem te deixar deprimido, angustiado ou perturbado o bastante pra não querer assistir de novo por um longo, longo tempo.

Mártires, 2008, de Pascal Laugier | Trailer

Após conseguir fugir do cativeiro, a garota Lucie (Mylène Jampanoï) é resgatada e levada para um abrigo de menores onde conhece Anne (Morjana Alaoui), sua melhor e única amiga. 15 anos depois, a jovem Lucie, atormentada pelas lembranças das torturas que sofreu na infância e motivada pela vontade incontrolável de se vingar de seus agressores, segue com a ajuda da amiga para realizar seu plano.


Por que não assistir de novo: a primeira parte do filme parece brincar com todo tipo de característica do gênero de terror fabricado em série em Hollywood; mas não se engane: Mártires vai muito além. Sem economizar nas cenas de violência (e sem pedir licença, sem chamar pra um café antes), ele constrói uma atmosfera de tensão progressiva até culminar no completo horror. É possível que você peça pra dormir com a mamãe.


Compliance, 2012, de Craig Zobel | Trailer

Becky (Dreama Walker) é uma caixa de lanchonete acusada de roubar dinheiro da bolsa de uma cliente. Embora a acusação seja feita num telefonema por um suposto policial, a gerente do fast food, Sandra (Ann Dowd), concorda em deter e revistar Becky. Essa "cooperação", porém, transforma a situação num pesadelo. 

Por que não assistir de novo: em termos cinematográficos, Compliance é até bem simples. O extraordinário fica por conta da história, que vai fazer seu queixo cair à medida que se desenrola. E ela é tão perturbadora e revoltante que o "não, eu não estou vendo isso", ao final da projeção, se transforma em "não quero ver isso nunca mais". MY EYES, MY EYES. A cereja do bolo? Tudo baseado em fatos reais.


Dançando no escuro, 2000, de Lars Von Trier | Trailer

Selma Jezkova (Björk) é uma mãe solteira portadora de uma doença hereditária na visão. Tentando impedir que seu filho fique cego como ela está ficando, Selma trabalha o máximo que pode para economizar e pagar sua operação. Só que, quando um vizinho amigo passa por problemas financeiros, têm-se início uma série de trágicos acontecimentos que mudarão para sempre os rumos de sua vida.

Por que não assistir de novo: é do mesmo diretor de Ninfomaníaca, é um musical e é, possivelmente, o filme mais triste que já vi na vida. Mas aí você me pergunta: "Aff, mas com a Björk, aquela louca que canta esquisito e se vestiu de cisne no Oscar?", e eu te respondo "Amado, é provável que a atuação dela seja a melhor coisa de Dançando no Escuro". A bicha foi destruidora mesmo. E o grande motivo pra fazer seu coração se partir em mil pedacinhos.


Miss Violence, 2013, de Alexandros Avranas | Trailer

Anggeliki (Chloe Bolota), no seu aniversário de 11 anos, se joga da varanda de casa com um sorriso no rosto. Sua família alega que não foi suicídio, mas sim um acidente, e aparentemente parece conformada com a morte da menina tentando, de todas as formas, continuar com suas vidas perfeitamente organizadas.

Por que não assistir de novo: é difícil falar de Miss Violence sem esbarrar em spoilers, mas posso dizer que uma palavra define esse filme: desconforto. São cores sem vida, a passividade de muitos dos personagens, portas trancadas e silêncios que levam o espectador a ficar cada vez mais angustiado, à procura de respostas para explicar a dinâmica dessa família peculiar. Triste, pesado e repugnante.


O império dos sentidos, 1976, de Nagisa Ōshima | Trailer

Uma ex-prostituta se envolve em um caso de amor obsessivo com o senhorio de uma propriedade onde ela trabalha como criada. O que começa como uma diversão inconsequente, transforma-se em uma paixão que ultrapassa quaisquer limites.

Por que não assistir de novo: não é exatamente por se tratar de um kama sutra oriental dos anos 70 (vamos combinar, nessa época o filme deve ter sido o maior bapho). Sim, tem muito sexo explícito (mesmo que engatado na velocidade -10 do créu), o tempo todo, e ver mais de uma vez deve ser um saco. Mas é a obsessão de Sada (a protagonista) por prazer que é o mais perturbador, além de uma cena traumatizante envolvendo ovos cozidos.


Vá e veja, 1985, de Elem Klimov | Trailer

Bielorrússia, 1943. O jovem camponês Florya (Aleksei Kravchenko) é cooptado por um despreparado grupo de guerrilheiros antinazistas. Em confronto com os alemães, o garoto é deixado para trás e decide retornar ao seu vilarejo. Chegando lá, depara-se com o desolador cenário de um massacre.

Por que não assistir de novo: certamente você já viu muitos filmes de guerra, mas nenhum como Vá e Veja. Chocante, brutal e altamente realista, ele leva a gente não para o campo dos soldados, mas para onde acontece a perda da inocência de um garoto que testemunhou de perto os efeitos físicos e psicológicos das atrocidades. O filme vai acabar, os créditos vão subir e você vai tentar recompor sua vida depois.


Saló (ou Os 120 dias de Sodoma), 1975, de Pier Pasolini | Trailer

Baseado livremente em histórias do Marquês de Sade ("Círculo de Manias", "Círculo da Merda" e "Círculo do Sangue"), passa-se na Itália controlada pelos nazistas, onde quatro libertários fascistas sequestram 16 jovens e os aprisionam em uma mansão com guardas. A partir daí, eles passam a ser usados como fonte de prazer, masoquismo e morte.

Por que não assistir de novo: na verdade, pela sinopse talvez você não queira ver nem uma vez. Eu entendo. Mas, como sofro de curiosidade crônica, resolvi conferir. Proibido em um punhado de países, Saló gera controvérsias até hoje; reza a lenda que Pasolini, na verdade, estava fazendo uma crítica ao regime fascista e à falta de limites provenientes do poder, mas tenho as minhas dúvidas sobre até que ponto não é apenas nojeira gratuita.


Vênus Negra, 2010, de Abdellatif Kechiche | Trailer

Em Vênus Negra, Saartjie (Yahima Torres) deixa a África do Sul para expor seu corpo às audiências dos freak shows de Londres. Livre e escravizada ao mesmo tempo, ela se torna um ícone nos subúrbios da cidade, em 1810.

Por que não assistir de novo: Kechiche, como fez em Azul é a cor mais quente, trabalha cenas longas (jamais cansativas) com realismo e a emoção da personagem para nos marcar não só com um grande filme, mas com uma experiência; aqui, expõe toda a humilhação e sofrimento de Saartje, torturando quem assiste ao jogar na cara a ignorância e crueldade do ser humano etnocentrista. Se o chute no saco não for o bastante, pense que é baseado em fatos reais.


Alabama Monroe, 2012, de Felix van Groeningen | Trailer

Elise (Veerle Baetens) e Didier (Johan Heldenbergh) se apaixonam à primeira vista, apesar de suas diferenças. Ele fala, ela escuta. Ele é um ateu romântico e ela é uma religiosa pé-no-chão. Quando a filha deles adoece gravemente, o amor deles é posto à prova.

Por que não assistir de novo: meu favorito para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2014 (Bélgica), Alabama Monroe foi um dos filmes mais tristes e bonitos que assisti no ano passado. A trilha sonora é impecável, a montagem não-linear é espetacular, mas ver novamente como a relação de Elise e Didier fica cada vez mais desgastada por causa dessa sempre sacana, a vida, é querer arrancar o coração pra fora do peito.


Amor, 2012, de Michael Haneke | Trailer

Estrelado por dois ícones do cinema francês – Emmanuelle Riva, 85 anos, e Jean-Louis Trintignant, 81 , Amor trata da relação de um casal de idosos que tem de lidar com a proximidade da morte.

Por que não assistir de novo: é de um realismo brutal. Ver Amor mais de uma vez é pedir pra se sentir humilhado. Vi minha mãe na personagem de Emmanuelle Riva, minha avó e até eu mesma, quando me peguei pensando em como nossa condição enquanto ser humano pode se tornar degradante, inevitavelmente ou não. Você não verá Georges, o personagem de Jean-Louis, sendo carinhoso em momento algum, mas ainda assim vai concordar que a palavra amor nunca foi tão bem representada no cinema nos últimos tempos.


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