02 agosto 2015

"O guardião invisível": thriller com sangue espanhol

postado por Manu Negri



“O guardião invisível” é o primeiro volume de uma trilogia que pretende acompanhar as investigações da inspetora Amaia Salazar no vale do rio Baztán. Nesta história, inteligentemente escrita por Dolores Redondo, Amaia precisa encarar uma corporação predominantemente masculina à frente de um caso assombroso de adolescentes mortas.

La chica española viene avisar: POST SIN SPOILERS
As tretas estão acontecendo em Elizondo - um povoado da província de Navarra, ao norte da Espanha -, lugar onde Amaia nasceu e do qual quis fugir assim que pôde, deixando para trás fantasmas do passado. Agora, além de ter que enfrentá-los, ela precisa lidar com um serial killer bastante peculiar cuja preferência por garotas na puberdade é sua característica mais forte: cada vítima é encontrada estrangulada por uma corda, com as roupas rasgadas ao meio, os pelos pubianos raspados e, sobre a pélvis, um txantxigorri (segundo fontes, no livro está escrito erroneamente com o "n" depois do primeiro "i") - doce típico da região. (Não fazia IDEIA de como pronunciava essa desgrama, mas lembrei que o Google certamente sabe, e agora estou rindo porque parece chinês - clique.)

À medida que o caso traz mais perguntas do que respostas, a mídia e a comunidade local começam a atribuir o crime ao basajaun, uma criatura do folclore basco (tipo o Pé Grande) que protege os bosques e guarda sua pureza. O interessante é que, junto com a protagonista, testamos nosso ceticismo em relação a essas fantasias, até a história fazer com que encaremos a sua mitologia de forma natural, aceitando que o basajaun possa realmente existir.

A construção das personagens, que são várias, é muito boa. Além de Amaia e alguns colegas de trabalho, também somos apresentados a James, o marido, e à família que permaneceu em Elizondo: as irmãs Rosaura e Flora, a tia Engrasi e o ex-cunhado Víctor. Elas ajudam a estruturar a história de vida de Amaia e a tragédia familiar que se tornou parte do que ela é: uma questão que, imagino eu, vá ser mais desenvolvida nos próximos volumes da trilogia.

Enquanto isso, nós, leitores, também acompanhamos a investigação, que anda a passos lentos por conta da dificuldade em encontrar pistas consistentes. Mas é importante se atentar aos detalhes: consegui chegar perto da conclusão correta ao tentar encaixar peças isoladas por essa razão e porque Dolores Redondo permite que solucionemos o caso junto de Amaia, diferentemente de J. K. Rowling em sua série do detetive Cormoran Strike (comentei sobre os dois primeiros livros dela aqui no blog).

Tirando algumas pequenas histórias de alguns personagens que nada acrescentaram à trama, de resto, tudo o que aparece nela tem um porquê: nada é colocado gratuitamente, por mais que a princípio pareça, o que é importantíssimo ao relacionar as pistas pelo caminho. A propósito, achei o desfecho bem amarrado, apesar de esperar que as motivações dos crimes fossem melhor embasadas.

Pontos fracos e fortes: há diálogos com falas muito extensas, ocupando mais de uma página, e outros pouco realistas e puxados pra uma veia dramática, me lembrando cenas de novela. Se o livro fosse mexicano, em vez de espanhol, caberia aqui uma piadinha.
Os capítulos são curtos, o que cria uma boa fluidez ao livro, nunca cansando o leitor.

A história termina com ganchos bem interessantes, mas infelizmente ainda não foi publicado o segundo volume aqui no Brasil; em contraponto, seus direitos já foram vendidos para uma produção cinematográfica. Duas coisas pra gente aguardar. :)




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