09 setembro 2016

"O homem nas trevas" me deixou exausta

postado por Manu Negri


Dos criadores de A morte do demônio, "O homem nas trevas" (título original: "Don't breathe") é o novo thriller que anda chamando a galera pro cinema desde que a Sony Pictures divulgou uma cena bem daora em seu Facebook (atraindo criaturas capazes de associar a porcaria de uma SINOPSE com... o quê? Estímulo à violência? Crítica aos direitos humanos? Ao Brasil? HAHAHAHAH PELO AMOR DE DEUS)


Sim, assaltar é errado. Assaltar é um crime. Mas assaltar casas é o que o trio de personagens faz rotineiramente, um deles pra tentar mudar a dura realidade da sua vida, sim, e isso é apenas um fato da sinopse. Eu tô ficando (ainda mais) preocupada com a sanidade das pessoas na internet.

</revolta>

"Money", Rocky e Alex são amigos e experts em assaltar casas de ricaços para roubar pertences valiosos (nunca dinheiro, ou a pena deles mudaria caso fossem pegos).  Num belo dia, Money, o babacão mano das quebrada, fica sabendo que tem um idoso veterano de guerra morando sozinho em uma casa de uma rua isolada, e dono de uma boooa grana, que recebeu de indenização depois que sua filha foi morta em um atropelamento. Decididos a arriscarem levar dinheiro pela primeira vez em suas "carreiras", eles partem em missão sem imaginar que o senhor ex-soldado, apesar de aparentemente inofensivo por ser cego, é um filho da puta ninja capaz de saber sua localização só por te ouvir respirar.

Aí você pensa: "porra, pelo material promocional estão tentando fazer o cara parecer um vilão, mas é fácil: vou torcer pro velhinho estripar esses três. Quem mandou invadirem a casa?"

Ah, meu amigo. Você não sabe os plot twists que o aguardam.

O filme aproveita seu primeiro ato para objetivamente nos apresentar aos adolescentes/jovens adultos e mostrar quais são suas motivações. Money é, talvez, o líder; um sujeito impetuoso e rude por quem não temos muita empatia, ao contrário de Alex e Rocky. O primeiro, mais tímido e introspectivo, mostra claros sinais de que há um senso moral habitando seu coraçãozinho quando nega participar do assalto ao "homem nas trevas" (argh). Porém, muda de ideia porque está apaixonado por Rocky (ah, sim, Rocky é uma mulher) e sabe que o dinheiro que conseguirão vai ajudá-la a dar uma vida boa pra filha e fugir da mãe alcoólatra.

Todo filme pede para que o espectador torça pelo bem de algum dos seus personagens (se não for TODO filme, me desculpa, devo ter esquecido alguma coisa do minicurso de crítica cinematográfica rsrs). Até esse ponto, O homem nas trevas acredita que te fisgou com a construção desses dois personagens e espera que você queira o seu bem, mas enquanto a presença do senhor cego é estabelecida a partir do segundo ato e você ainda não entende se ele é exatamente uma vítima da situação, é impossível não vibrar com a sua sagacidade e boas doses de violência quando entra em confronto com os jovens.         

Esse filme me deixou mentalmente exausta. Primeiramente Fora Temer, o velho é uma figura selvagem e altamente intimidadora; bastava aparecer em cena para eu me encolher na poltrona do cinema. Roí duas unhas. É sério. Segundamente, a direção é ágil e ótima, assim com o roteiro. Há um trecho em que o trio consegue entrar na casa e a câmera simula um plano sequência pelos cômodos, passando por portas, subindo andares e entrando debaixo de camas que eu achei demais; estabeleceu-se a tensão necessária para dar espaço no palco para o velho começar a brilhar. A partir daí, é aflição e angústia cena após cena, em um labirinto de situações muito bem construído que conduz os ~meliantes~ a tentativas de fugas desesperadoras da casa, que acabam abrindo portas (literalmente?) para uns segredinhos obscuros do dito-cujo.

Há momentos em que a gente prende a respiração junto com eles. Momentos em que um barulhinho de pipoca a 10 fileiras de distância pode causar um trincar de dentes. E isso é brilhante, pelo que o longa propõe. Só há uma fala que eu não curti, em que o velho diz algo como "Não há nada que um homem não faça quando descobre que Deus não existe", mas isso é assunto pra outro texto.  

Meu receio mesmo era que o final de O homem nas trevas estragasse toda a minha experiência, mas, felizmente, ponto pra Grifinória. Há inúmeras surpresas agradáveis ao longo do filme, e o fim do terceiro ato é tão eletrizante, cheio de reviravoltas, que até o último segundo de projeção eu não tinha certeza se a história estava definitivamente concluída. Saí da sessão espantada por ela ter durado menos de 1h30, porque eu sentia como se tivesse sido atropelada de frente e de ré durante o dobro do tempo por um caminhão pipa: sudorese na suvaca, perna bamba, taquicardia, dor nas junta. Acho melhor fazerem um lanchinho no shopping antes de assistirem, porque depois tudo o que vocês irão querer são uma soneca e uma massagem pra aliviar os nós nas costas.





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