02 dezembro 2017

O dia em que morri no show do Sigur Rós

postado por Manu Negri

Fotos do post tiradas pelo talentoso amigo Fabricio Vianna
Nesses últimos 13 anos em que esperei por um show da minha banda favorita, imaginei várias coisas. Um anúncio de turnê deles no Acre. Uma rápida aparição em algum desses festivais de música que nunca tenho interesse em ir. Trocentos boatos de uma volta ao Brasil, como aconteceu. E, também, um grande silêncio junto de roteiros de viagem pra Islândia, o que seria minha última aposta pra, um dia, poder ver o trio de perto.

Minha sorte mudou no começo deste ano. Eu não estava preparada pra receber a notícia de um show do Sigur Rós no Brasil, mais precisamente em São Paulo, a uma hora de voo de onde estou. Acho que foi um dos momentos mais empolgantes da minha vida. Meus braços formigaram. Saí da minha sala de trabalho em direção à varanda pra espalhar as boas novas via telefone, quase em lágrimas.

Nunca tive muitos sonhos ambiciosos. Ou melhor, nunca tive muitos sonhos, desses que colocamos como meta pra realizar antes de morrer. Mas ver Jónsi, Orri e Georg juntos a poucos metros de mim era um deles. Minha história com a banda começou na adolescência, quando eu costumava dormir de madrugada escutando música, conversando com amigos no finado MSN, descobrindo coisas sobre o mundo e sobre mim. Quando dei play em Untitled #4, do álbum ( ), foi amor à primeira ouvida. Um tipo de som que eu nunca tinha experimentado antes, tão envolvente e absorvente, que dispensava traduções de quaisquer letras em islandês. Era apenas preciso sentir. Naqueles tempos, em que eu ainda me considerava religiosa, dizia que ouvir Sigur Rós era ouvir Deus cantando.


26 novembro 2017

Alias Grace: culpada ou inocente?

postado por Manu Negri


Netflix, essa grande recalcada.

Provavelmente enquanto chorava por horas na cama, que é lugar quente, o serviço de streaming mais querido do Brasil sofreu o arrependimento de ter recusado colocar The handmaid's tale em seu catálogo. Afinal, deve doer o coração ver a concorrência levar uns Emmys pra casa, né, mores? E aí que Margaret Atwood, autora do livro no qual a série se baseou, também tem uma outra obra que virou minissérie recentemente pela emissora canadense CBC, Alias Grace, chamando a atenção da Netflix - que rapidinho tratou de tê-la entre as novas aquisições.


Alias Grace não repetiu o sucesso de sua irmã, mas não por falta de qualidade, e sim porque provavelmente está sendo subestimada quando as pessoas acessam a home de suas contas. Dividida em apenas 6, porém sólidos episódios, a minissérie conta a história real de Grace Marks: uma jovem irlandesa de classe média-baixa que decide tentar a vida no Canadá. Contratada para trabalhar como empregada doméstica na casa de Thomas Kinnear, ela é condenada à prisão perpétua pela participação no assassinato brutal do seu patrão e da governanta da casa, Nancy Montgomery, em 1843. Passados 16 anos desde o encarceramento e internação da imigrante em um manicômio, o psiquiatra Simon Jordan, contratado por um grupo de pessoas que anseiam pelo perdão à Grace, fará de tudo em sessões de terapia para que ela recupere suas memórias, revelando se houve de fato culpa sua nos crimes. Teria Grace sido justamente incriminada ou foi coagida por James McDermott, o cocheiro rabugento da propriedade, quem verdadeiramente teria sujado as mãos de sangue?

Vou mandar a minha real: pra mim, essa resposta é o que menos importa; o mais interessante de Alias Grace é a perspectiva de uma sociedade extremamente patriarcal, burguesa e machista. A minissérie trabalha personagens femininas vivendo seus papéis de gênero dentro desse universo, e é quando pensamos em crítica feminista que ela se assemelha a The handmaid´s tale.


19 novembro 2017

"O conto da Aia", livro que inspirou The handmaid's tale

postado por Manu Negri


Com a cabeça abaixada, olhos tristes e uma voz murcha, venho confessar: enfim terminei o segundo livro do ano.


Do ano, manas.

O que aconteceu comigo em 2017 foi a junção de três coisas definidoras: desenhar mais no tempo livre, jogar videogame quando não tô desenhando no tempo livre, e receio de usar o Kindle no ônibus, que é basicamente o lugar onde mais ponho minha leitura em dia, no caminho de ida e volta até o trabalho. Eu costumava ler cerca de um livro por mês até o ano passado. Por isso, é com profunda indignação comigo mesma (rs), que me dou conta deste status atual. Como diriam os adultos quando eu era adolescente e achava isso a maior bobagem do mundo: "o dia podia ter 50 horas".

A escolha de O conto da Aia, de Margaret Atwood, foi, como dá pra imaginar pelo título do texto, influência da fantástica série The handmaid's tale, sobre a qual falei aqui. Trata-se de uma distopia em que o governo dos EUA, após sofrer um golpe de um grupo terrorista religioso, torna-se a República de Gilead: teocrática, totalitária e que tem as mulheres como principais vítimas de sua opressão. Sem quaisquer direitos, elas deixam de ser cidadãs e passam a ser propriedade do governo. As mais velhas ou não doutrinadas são enviadas às Colônias para recolher lixo tóxico e morrer em pouco tempo. As casadas com comandantes do alto escalão são simplesmente as Esposas,  desfrutando de uma vida de regalias. As Econoesposas não são ricas, mas possuem alguma posição social por estarem associadas a um homem. As que não são casadas e têm alguma utilidade podem se tornar Marthas, que são as cozinheiras e governantas das casas dos comandantes; Jezebels, que vivem como escravas sexuais em hotéis transformados em bordéis; ou, caso sejam férteis em uma sociedade onde a taxa de natalidade é praticamente zero, tornam-se Aias. Esse é o caso da nossa protagonista, Offred.


05 novembro 2017

Uma aula de roteiro em MINDHUNTER

postado por Manu Negri


Por favor, não me ache uma doente pela declaração que dou agora, mas eu adoro serial killers.

Não sei explicar, mas simplesmente sou acometida por um grande fascínio quando começo a pesquisar sobre crimes, motivações, investigações, metodologia do criminoso e, claro, a psicologia dele. Não é à toa que fiquei deveras empolgada com o anúncio da nova série da Netflix, Mindhunter, que promete mostrar como se deu o processo de um estudo do FBI de tentar desvendar as mentes por trás de alguns dos crimes mais bárbaros da História americana.

E, ainda por cima, é uma produção executiva do David Fincher (de Os homens que não amavam as mulheres, Garota exemplar, O Clube da Luta e Se7en - Os sete crimes capitais), quem dirigiu os dois primeiros e os dois últimos episódios.

Eu não poderia esperar menos de um sujeito com esse currículo. Mas vamos lá: para algumas pessoas, assistir Mundhunter pode requerer certa paciência. O episódio piloto não empolga muito, e a história se desenvolve devagar. O foco não é na ação. No entanto, não desista: a série engaja demais à medida que a gente assiste.


29 outubro 2017

Nossos filhos estão de volta em Stranger Things 2

postado por Manu Negri


Depois de 1 ano, 3 meses e 12 dias de espera, enfim minha ninhada voltou para os meus braços, em uma guarda compartilhada com toda a internet, que está enlouquecida de amores com a nova temporada de Stranger things. <3

A série virou um fenômeno desde a sua estreia no ano passado e posso arriscar que é a obra original da Netflix de maior sucesso atualmente. A empresa, aliás, declarou que Stranger things ganharia mais algumas temporadas ainda naquela época, o que levou os espectadores à pergunta: a história tem base pra ser desdobrada por tanto tempo? Bom, a resposta, aparentemente, é "sim". No entanto, apesar da nova leva de episódios demonstrar que o universo da cidade de Hawkins pode ser expandido de uma forma que fique coerente, pouco foi explorado do mundo invertido. O clima de mistério que é o cerne de Bagulhos sinistros continua, mas as perguntas sobre o que é "o outro lado", como se deu sua descoberta, pesquisas, o que são aquelas coisas nojentas e etc. continuam; ou seja, quem espera respostas demais vai ficar decepcionado, e quem quer "mais uma dose" de Mike, Dustin, Lucas e cia vai ganhar um prato cheio

Esta nova temporada se passa 1 ano após os acontecimentos anteriores. Eleven continua desaparecida para os amigos, mas descobrimos que ela esteve sendo mantida a salvo pelo delegado Hopper, que arrumou um abrigo no meio da floresta onde ela pudesse morar com tranquilidade e longe tanto do laboratório local quanto do governo. Enquanto isso, Will sofre de episódios graves em que suas visões do mundo real se confundem com as do mundo invertido, levando-o em contato direto com o "Monstro das Sombras" - um bichão gigantesco que parece governar todas as criaturas por lá, inclusive os Demogorgons.