22 outubro 2017

LIFE IS STRANGE - BEFORE THE STORM: episódio #2

postado por Manu Negri


De volta, amiguinhos gamers, com o segundo episódio do prelúdio de Life is strange depois de quase 2 meses de espera. Isso não se faz com uma pessoa que sofre de ansiedade generalizada.

Brave new world se passa no dia seguinte ao dia ocorrido no primeiro episódio, como esperado, diante da mesa do diretor Wells, no meio de uma situação delicada que definirá o futuro de Chloe ou de Rachel, dependendo obviamente das suas escolhas como jogador. Acontece que a Blackwell está ciente do comportamento controverso da Chloe e da matadura de aula de ambas, acarretando na expulsão ou suspensão dela, levando ou não Rachel a participar da peça de teatro que acontece à noite.

Bom, não sei o que você fez, mas euzinha resolvi tomar pra mim (digo, Chloe) toda a culpa do ocorrido e fui (digo, ela foi) expulsa da escola - algo que aconteceria de qualquer forma, como está claro em Life is strange, porém não exatamente nesse período - levando a uma cena muito legal de pichação enfurecida no banheiro feminino (imagem ali em cima), amplificada pela canção No care, da Daughter. Uma sensação gostosa e dolorosa de nostalgia quando relembramos todas as pichações pelas quais a Max passou no jogo original e quando pensamos, também, que é nesse lugar  que Chloe é baleada pelo Nathan.

Não que fosse algo difícil de conceber, como já comentei no texto sobre o primeiro episódio, mas Brave new world mostra que Before the storm funciona muito bem como elemento nostálgico da franquia, mas provavelmente não vai superar ou se igualar ao original em termos de storytelling. Alguns dos momentos mais marcantes desse episódio estão relacionados diretamente a Life is strange, como a volta ao ferro velho, Chloe conhecendo o carro que ela usa pra cima e pra baixo no primeiro jogo, o barracão, a origem do gorro azul, Pompidou filhote, o armário do trailer do Frank lotado de latas de feijão (dei uma gargalhada nessa parte, aliás).

 

Brave new world, inclusive, se revelou um pouco melhor que Awake, o primeiro episódio. É mais divertido e mais desafiador, com cenários legais pra explorar e puzzles pra resolver, atribuindo um novo degrauzinho de dificuldade ao jogo. E se a exploração for mal feita, o jogador deixa de encontrar objetos icônicos para seu deleite (o gorro é um exemplo!). As escolhas feitas, aliás, já mostram seu impacto aqui junto com as novas a serem feitas, gerando a sensação de mudar o rumo das coisas, por mais que a prequel não permita que sejam mudanças drásticas. São modificações em interações e diálogos, ou seja, as partes-chave acontecerão pra todo mundo de qualquer maneira.

A mecânica do "Desafio do bate-boca" continua presente, mas de uma forma diferente, acompanhando o desenvolvimento da Chloe na história. Enquanto no primeiro episódio os bate-bocas eram as melhores opções dos diálogos, isso nem sempre acontece aqui. Ou seja, em vez de ser impulsiva/agressiva nas respostas, ela tem cada vez mais escolhas pra ficar calada ou ser mais gentil, representando um possível progresso em seu crescimento. Eu curti isso, por mais que essa interpretação não deveria fazer muito sentido, uma vez que em Life is strange a Chloe está ainda mais badass e imatura em vários momentos, e é nesse jogo que seu personagem verdadeiramente se desenvolve "pra melhor". O ponto positivo disso é que Before the storm faz com que tenhamos empatia pela Chloe com uma facilidade muito maior do que em Life is strange.

Além de estreitar sua relação com a Rachel, Chloe volta a interagir com personagens apresentados no episódio anterior, mas que, infelizmente, não são tãaao bem explorados quantos os secundários de Life is strange. Steph, Drew, Mickey, Skip, Damon Merrick (BEM pouco) e Samantha estão de volta, relevando um pouco mais de suas facetas, assim como Frank, Joyce, David e até o místico Samuel. Mesmo expulsa ou suspensa da Blackwell, Chloe voltará à escola pra cumprir uma tarefinha perigosa proposta por Frank, levando o jogador a dilemas morais semelhantes àqueles do primeiro game.

Na minha opinião, o problema de Before the storm, além das inconsistências apresentadas desde o primeiro episódio (elas estão sendo listadas aqui), é que o jogo está sendo resumido em um shipp (e olha que eu sou a maior shippadeira do pedaço). BtS está ou simplesmente entregando o que os fãs de amberprice querem assistir, atropelando informações canon e se mostrando uma fanficona, ou está guardando A carta na manga pro terceiro e último episódio. Se for o que estou esperando, terei que dar todos os créditos à Deck Nine: apresentaram uma Rachel sedutora e carismática que conseguiu hipnotizar não só a Chloe como a maioria dos jogadores, pra depois revelarem/reforçarem o que já está claro em Life is strange - Rachel Amber é manipuladora.


Uma das cenas mais legais e divertidas do episódio não revisita situações do jogo original, mas está cheia de amberprice, independente de escolhas anteriores - a peça de teatro em que Rachel e Chloe improvisam suas falas em uma alusão à amizade e ao sentimento crescente entre ambas. Em contrapartida, a história encenada pode muito bem ser uma alegoria a elas mesmas. Em A tempestade, de Shakespeare, Próspera - interpretada por Rachel - queria se vingar da cidade onde vivia e aprisionou Ariel - papel de Chloe -, um espírito com poderes mágicos obrigado por ela a ajudá-la em seus planos, em troca de liberdade. Além disso, Caliban - personagem de Nathan - é escravo de Próspera, e lembremos que em Life is strange era obcecado pela Rachel, dando no que deu. Que tal? 

Se Before the storm peca um pouco no desenvolvimento, parece usar de metáforas como essa pra enriquecer a narrativa. E os sonhos da Chloe com o pai são outros elementos cheios de mensagens enigmáticas (já experimentou abrir o diário dela durante esses sonhos?). Em Brave new world, William alerta: "o fogo nos cega, como a escuridão". A escuridão cega com a ausência, com a perda... mas às vezes ele oculta uma beleza ainda maior. Já o fogo é ciumento: ele quer toda a beleza para si. Por isso, Chloe precisa ter cuidado pra não se queimar.

Como filosofou a amiga Áurea, enquanto pricefield é como a água - às vezes revoltoso, em outras calmo, mas sempre constante -, o símbolo de amberprice é o fogo, que começa arrebatador e se alastra num curto espaço de tempo, porém efêmero, virando cinzas rapidamente.

Que o fogo é a Rachel, isso está claro. Mas se o fogo no pesadelo não for uma referência à personalidade dela e aos danos causados na Chloe, Deck Nine pode enfiar o jogo no brioco. Não estou dizendo que a Rachel é uma vaca filhadaputa, ou que está usando a Chloe o tempo todo; eu acredito que ela se importou genuinamente com ela, afinal, não é à toa que foi "seu anjo" e o suporte necessário pra nossa protagonista enfrentar seus demônios. Porém, me parece extremamente necessário tirar essa aura de perfeição de cima dela.


Por fim, mais um elogio ao episódio por retratar a humanidade do Nathan mais uma vez em uma cena emblemática com seu pai, Sean (finalmente conhecemos o podrão dos Prescott). Por outro lado, Victoria nunca esteve tão caricaturada como a patricinha sem escrúpulos. Aqui é assim: morde e assopra. Vamos morder de novo: enquanto o diário da Max era uma extensão da personagem, cheio de sentimentos e impressões que jogando somente com ela não conseguiríamos descobrir, o diário da Chloe está me parecendo cada vez mais meros relatos do que acontecem a ela, pouco acrescentando à nossa percepção sobre as cenas. O final do episódio foi outro ponto beem mais ou menos pra mim: a tal revelação se mostrou bastante previsível (algo que eu e outras gamers discutimos muito antes do lançamento), tirando o choque que a Deck Nine pretendia dar. Fiquei mais arrebatada no segundo seguinte, quando Youth começou a tocar - uma música mega aclamada pelos fãs de Life is strange por se encaixar bem com a história, finalmente na trilha oficial. Eita, fanservice. 

Sobre defeitos técnicos: 1) em alguns momentos em que Chloe tem oportunidade de ler alguns cartazes, não existe legenda para o texto. 2) Quando você tem mais de um save, na hora de jogar o segundo, o jogo mistura o progresso do que você já terminou com o que você tá jogando na hora e não te deixa evoluir. Esperemos que eles consertem o mais rápido possível pra gente poder testar outras escolhas nesse meio tempo.

O terceiro episódio de Before the storm, Hell is empty, provavelmente será lançado próximo do Natal ou no começo de janeiro, na pior das previsões. Será que vou pagar língua?



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