17 setembro 2022

"É ASSIM QUE SE PERDE A GUERRA DO TEMPO" inventou o "enemies to lovers"

postado por Manu Negri

Livro É assim que se perde a guerra do tempo

Eu tinha comprado a versão e-book de É assim que se perde a guerra do tempo e deixei ela lá, na fila dos livros que eu um dia lerei, até o dia em que o transporte da mudança levou meus móveis e caixas pra um box, incluindo o Kindle e todos os meus livros novos, e perdi a chance. 

Agora, com tempo sobrando na minha vida pela primeira vez em meses, reacendeu a chama da vontade de preenchê-lo com leitura. Sentia falta de sentir páginas em minhas mãos, mergulhar em uma história a ponto de esquecer as outras que estão à minha volta. Há exatamente uma semana, entrei em uma livraria e resolvi perguntar o preço de É assim que se perde a guerra do tempo. Me assustei (não está fácil viver em 2022) e fui embora. Mas algo – e alguém, minha noiva – me disseram pra voltar e investir a grana. Afinal, sem previsão de quando terei o Kindle de volta.

E sabe de uma coisa? Que decisão maravilhosa. 

Terminei o livro em poucos dias (é curtinho, menos de 200 páginas) e agora estou aqui, tentando juntar palavras que façam jus à descrição da experiência que tive

Ganhador dos prêmios Hugo, Nebula e Locus, É assim que se perde a guerra do tempo é ora um romance epistolar, ora narrativa em terceira pessoa, que conta a história de duas agentes de facções rivais que estão em uma guerra do tempo e espaço, manipulando passado e presente para garantir o melhor futuro para seus times. Até que as duas dão início a uma troca de cartas que, a princípio, não passam de provocações, mas acabam se transformando em algo mais. 

Se as agentes forem pegas, a morte é certa. Enquanto isso, quem vai ganhar a guerra?

Tá pronta a misturinha perfeita: viagem no tempo e romance sáfico, simplesmente tudo pra mim.


NÃO É UM LIVRO PRA TODO MUNDO (É O QUE DIZEM)

Ou você ama, ou você odeia, ou se sente burro demais pra sequer saber se amou ou odiou.

Nas primeiras páginas, eu me enquadrava na terceira alternativa. 

É assim que se perde a guerra do tempo não faz questão de explicar nada, tu que se foda aí, meu chapa. Se você espera entender como funcionam exatamente as viagens no tempo, como os agentes passam de uma realidade pra outra ou quando a guerra começou e por que começou, eu aconselharia esquecer e partir pra outra. Mas, ao invés disso, prefiro pedir: dê uma chance. 

Apesar de ser uma ficção científica, ela é muito mais o pano de fundo pra uma história de amor e sobre o amor.

O que, na minha opinião, tem tudo a ver com a linguagem peculiar e abstrata do livro: recheadas de metáforas e lirismo, as cartas que Red e Blue – as protagonistas – trocam carregam alegorias e sentimentos extremamente tocantes. Eu diria, aliás, que 90% do livro parece um grande poema

Além disso, a leitura exige bastante da sua imaginação para compreender cenários que ainda não existem na vida humana (ou jamais existirão) – afinal, estamos falando de linhas do tempo que acontecem tanto no ano I quanto daqui a centenas de séculos. 

É uma loucura deliciosa.

Não foram poucas as vezes em que me peguei relendo parágrafos pra tentar traduzir em imagens o que estava acontecendo (ou parecia acontecer), da melhor forma possível. E nem poucas as vezes em que precisei pausar por alguns segundos pra retomar o fôlego, tamanha a força que algumas passagens tiveram sobre mim. Que saudade de vivenciar isso e de constatar o poder das palavras em evocar sentimentos. 

Os autores (sim, são dois) foram hábeis e sensíveis o bastante para construírem, aos poucos, a transição dessa relação de inimigas para amigas e para amantes, de uma forma tão natural, crível e palpável. 

Até chegar a É assim que se perde a guerra do tempo, eu achava que conhecia o conceito de "enemies to lovers".

Nas cartas em que Red e Blue se conhecem e se reconhecem uma na outra, amadurecem, se admiram profundamente e mudam a forma como enxergam o mundo, também se descobrem mais parecidas do que poderiam imaginar – apesar de pertencerem a universos opostos. Enquanto Red é mais bruta, de táticas mais violentas e herdeira de uma facção voltada para a tecnologia, Blue tem um viés orgânico, meticuloso e mais voltado para o que reconhecemos como humanidade. 

O perigo do começo dessa jornada de traição a suas facções estava em uma contaminar a outra. Não posso negar que isso aconteceu, afinal.  

(Sei lá, tô até suspirando.)

É assim que se perde a guerra do tempo entrou, definitivamente, para o meu TOP 5 livros favoritos. Agora, me resta a sensação agridoce do vazio de terminar uma experiência fantástica.


"Ler suas cartas é colher flores dentro de mim, arrancar um botão aqui, uma samambaia ali, arrumá-las e rearrumá-las de um jeito que combinem com um quarto ensolarado"


Nota:


Ficha técnica
Editora: Suma
Autores: Amal El-Mohtar e Max Gladstone
Tradutora: Natalia Borges Polesso (tá de parabéns, amada)
Páginas: 192
Compre: Amazon


0 comments:

Postar um comentário