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05 outubro 2015

Sem tratamento

postado por Manu Negri


Mais do que preocupada, a dra. Amanda parecia intrigada. A bateria de exames cardiológicos à sua mesa não acusava problema algum, mas quando Saulo – seu paciente regular havia pouco mais de um mês – voltava ao seu consultório, os exames clínicos indicavam algum tipo de arritmia cardíaca.

Saulo tampouco parecia preocupado. Apesar de sedentário, não estava acima do peso, se alimentava relativamente bem e não tinha nenhum outro problema de saúde relevante. Pagava as contas do seu apartamento de um quarto com o trabalho de designer freelancer, vivia sob a companhia de Capote, seu gato mestiço, e se dirigia ao hospital da região de bermudas e chinelo de tempos em tempos desde a primeira consulta de rotina.

Dra. Amanda disse que provavelmente não era nada, mas pediu alguns exames. Não era nada mesmo. Fumava? Não. Sentia fadiga com frequência? Não. Dormia bem todas as noites? Mais ou menos. De qualquer modo, nenhum motivo pra se preocupar. Se continuasse incomodando, poderia marcar um retorno. Saulo marcou alguns.

Dessa última vez, deixou a dra. sentada diante de uma papelada com o seu nome no cabeçalho. Sentia-se ótimo apesar da suspeita, mas, como sempre, garantiu que entraria em contato caso achasse necessário. E provavelmente entraria, agora que ele secretamente admitia ter descoberto o diagnóstico. Com um sorriso de canto, dobrou a esquina que o levava para casa recordando dos cabelos louros, do seu perfume cítrico, do jaleco impecavelmente branco e do seu coração disparando sempre que ela ousava tocá-lo com seu estetoscópio: devia ser o que chamam de amor.


26 agosto 2015

Falta de sobra

postado por Manu Negri


Enquanto arrumava os caixotes velhos do quarto que servia de despensa, achou o baú das correspondências que recebia desde a adolescência. De dentro, retirou o primeiro envelope da pilha e encontrou uma carta de três páginas de folhas de caderno. Datava de seis anos atrás.

"Nos filmes e nos livros românticos, o amor supera tudo, absolutamente tudo. Especialmente a ausência. A mocinha espera na varanda de casa, todos os dias, o amado voltar da guerra. Nem uma foto recente, uma carta, um postal, uma notícia sequer. Mas ela espera paciente, convicta, pelo dia em que ele retornará e enfim ficarão juntos pra sempre.


11 agosto 2015

Mágoa

postado por Manu Negri



Ela chegou de supetão. Agarrou-se a mim como uma criança que não quer desgrudar da mãe.  Deixei-a entrar em vez de passar pela porta. Acho que mais por dependência emocional do que por qualquer outra coisa. Eu precisava dela.

A alimentei e arranjei um lugar quente pra dormir. “Fica, a casa é sua”, foi o que eu quis dizer. Ela ficou. Fazíamos tudo juntas. Sentia o sangue correndo nas veias, a cabeça quente e, as lágrimas, mais ainda.

Os dias se transformaram em meses. Ela, então, passou a mão sobre meus olhos e deitou-se sobre meu coração, que não voltou a flutuar. Sua companhia, antes justa, começou a parecer incerta.

Requeri meu espaço de volta, mas seu sono era leve: acordava alardeando, querendo atenção. Seu quarto continuava lá – de luz apagada e porta trancada, mas ela sempre dava um jeito de fazer uma visita. E, eu, fazia sala.

Gritei. “Me deixa em paz”, foi o que eu quis dizer. Ela não se foi. Resolveu viver como uma sombra. Enquanto eu, desesperada à procura de uma maneira de me levantar do sofá, não percebi que sua partida dependia não de gritos de ordem, mas de alguém dizendo gentilmente “Me perdoe”.


05 agosto 2015

O problema não é você. Sou eu.

postado por Manu Negri



Lembra aquele dia em que você me mandou trocar de roupa porque a saia estava curta? Foi quando minha autoestima ficou cada vez menor e não pude me dar valor.

O problema não é você, sou eu. 
Que não entendi que exagerar na maquiagem me fazia parecer uma prostituta, apesar de, na verdade, me sentir uma palhaça.

Fui eu quem agi errado e precisei dos seus puxões no meu braço pra me colocar no meu lugar. Mas talvez eu seja mesmo, como você diz às vezes, uma cadela: só aprendo quando apanho mais de uma vez.

O problema sou eu, e agradeço a você. Que, ao tentar me fazer ver o quanto sou feia e substituível, me fez enxergar que aquela do outro lado do espelho também mora dentro de mim.

Por isso, acho que eu preciso de um tempo. De um tempo pra recuperar todo o tempo que perdi com você. Não me leve a mal, estamos mesmo em momentos diferentes: você, de ser babaca, e eu de parar de aguentar merda na vida.

O problema não foi você. Foi eu, meu bem.
Espero que em breve eu possa ser perdoada. Infelizmente, sou muito dura comigo mesma, – mas já deu pra entender quem é que merece alguém melhor no fim desta história.




04 março 2015

Pra aparecer

postado por Manu Negri


Foto: Nora Setiawan

Chegou o prato. Espera, antes de comer, esse vai pro Insta. Precisa aparecer o bife e essa verdura que não sei o nome, mas que tá compondo bem o visual. Depois, uma foto de uma corridinha marota pra equilibrar. Na legenda está 10 km, mas na verdade foi menos da metade. Às vezes nem tem corrida mesmo, só a foto num parque qualquer. Ninguém precisa saber. Desde que apareça o por-do-sol e a marca da Nike na minha legging do outlet. Vem cá, tira uma foto comigo, faz uma cara despretensiosa. Ou caretas, sempre parecem descoladas. Que turminha do barulho, viu. Cansei, quero só selfies agora. Duck face tá fora de moda, mas boquinha entreaberta, não. Sexy sem ser vulgar. Vem, tem que aparecer a marquinha do biquíni; não viajei pra Guarapari e comprei Cenoura&Bronze à toa, né, gente? Pensando bem, selfie não. Tira uma foto minha, mas vou fingir que você não tá tirando foto nenhuma, tá? Tem que aparecer minha tatuagem em cima do cotovelo. A propósito, as férias estão chegando, bora escolher um lugar pra viajar? Pode ser qualquer um, desde que dê pra descansar. Desde que dê pra fazer check-ins cool. Qualquer um que tenha paisagens pra fotos legais. Qualquer um que faça frio e tenha paisagens pra fotos legais. Afinal, tem que aparecer os gorros e cachecóis. Com muitos filtros, até ficarmos irreconhecivelmente lindos nelas. Quê, esse livro que publiquei ontem? Do Nietzsche. Dizem que se pronuncia Níti. Não é que eu tenha lido, era só pra aparecer a capa. Se colar, colou. E hoje, hoje não tá um dia bom: basta que só apareça o meu sorriso falso. Mas nada como comer pra melhorar o humor, vamos pedir um prato? Dá aqui a câmera. Uma salada ou risoto de frutos do mar. Mas tem que aparecer o vinho na mesa. O importante é parecer foda o tempo todo.


28 janeiro 2015

Clichê de família

postado por Manu Negri



Esperei por você tanto tempo. Se for menina, vai se chamar Ana. Se for menino, João. Espero que seja menina. Mas vai ser lindo um menino também.

É menino.

João tá ficando bem parecido com o pai, né?  Vai arrasar corações. Já imagino virando médico. Só pra ficar assim, cara de um e focinho do outro mesmo. Os homens da minha vida.

Coloquei o garoto na aula de bateria. Eu sei, ele queria violino, mas acho bateria tão... forte, diferente. Escreve o que estou dizendo: ele vai me agradecer depois. Por isso e pelas roupas transadas que eu comprei, que é pro João parar de andar feito mendigo. Mora sob meu teto: segue minhas regras.

Corta esse cabelo, João. Tá parecendo veado. Ah, vão raspar quando você passar no vestibular? Tá certo, filho. No curso de quê? Belas artes?! Porra, João, e a medicina que tanto conversamos? Eu sei que a gente tem que ser feliz fazendo o que gosta, mas e o que a família vai pensar, não conta?

João me contou que é veado. Mesmo baterista e de cabelo curto. Depois de tudo o que eu fiz. E pior: tá de namoro firme. Com um tal de Renato, que não quero ver nem pintado. Que desgosto, meu Deus. Acho que minha vida termina aqui.

Nem pense nisso, João. Não precisa sair de casa, meu filho. A gente conversa melhor.  Quer mesmo largar esse gatilho de um futuro brilhante pra cursar teatro e tocar violino no Rio? Com o Renato, ainda? Ah, você quer. Entendo. Sim, entendo. Entendo que você quer é acabar comigo. Imaginei você casando, João, tendo filhos, aumentando a família... é óbvio que eu sei que dá pra adotar, mas e o nosso sangue? Como vou olhar pra uma criança e não enxergar a gente? Francamente, João, olha o rumo que sua vida tá tomando. Não foi isso o que eu sonhei pra você.

Não foi isso o que eu sonhei pra mim.


30 dezembro 2014

Retrospectiva

postado por Manu Negri



...5, 4, 3, 2, 1, feliz Ano Novo! Bora usar amarelo, que é pra atrair dinheiro. Opa, pula aqui comigo essa onda, que é pra dar sorte. Mas pula com o pé direito. Pronto, agora é só esperar. Janeiro é bom, né? A gente volta pra rotina renovado. Não vejo a hora de por em prática as promessas que listei. Olha só pra essa barriga, devo ter engordado uns 7 quilos nesse fim de ano: melhor começar pela academia. Cinco dias por semana. Quê, marcaram churrasco pra amanhã? Bom, não tem problema adiar a dieta pra próxima segunda-feira, tem? É que comer é muito bom, vamos combinar. Bom até demais. Essa picanha tá coisa de doido. Pena que não é lá muito saudável. Vixe, colesterol alto no exame, fodeu. Fo-deu. É, eu sei que prometi parar de fumar, mas no momento preciso acalmar os nervos. Mas a academia vai bem. Quantas vezes? Ah, depende; às vezes 3, às vezes 2 por semana. Ninguém avisou que ia ser difícil manter, sabe? Ando muito sem tempo. Aí bate aquele pensamento de que é melhor aproveitar a vida no presente. De que adianta malhar agora se daqui uns anos a gravidade começa a agir, não é mesmo? Nossa, mas o ano tá passando rápido, menina. Parece que foi ontem que começou. Ainda não deu pra juntar tanto dinheiro quanto pensei, mas mês que vem vai dar pra folgar um pouco. Prometo. Cacete, inacreditável o extrato da minha conta. É cheque especial de novo. Me dá aqui um Marlboro. Ou um pacote de bombons. Para o raio que o parta essa dieta. Brincadeira, segunda-feira que vem eu retomo. Projeto verão ainda tá de pé. Quê, já é dezembro? Ok. Apertado, mas ainda dá tempo. Ou não, o plano da academia venceu. Foda-se. Que essa merda de ano acabe logo de uma vez. Natal tá chegando. Hora de engordar mais 7 quilos. Ano que vem eu malho sério, prometo, prometo, prometo. Vou ter tempo e disposição pra fazer tudo o que quero. Se Deus quiser. Tô sentindo, bem aqui no peito, ó. Ah lá, vai começar a contagem regressiva.

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Esse post faz parte dos memes de dezembro do Rotaroots no Facebook, um grupo de blogueiros que quer resgatar um pouco da blogosfera old school. 


21 outubro 2014

A sombra de Mariana

postado por Manu Negri



Mariana sempre foi tímida. Educada, mas de poucas palavras. Evitava falar tanto quanto evitava olhar nos olhos das pessoas; por isso, mantinha a vista quase sempre fixada nos próprios pés enquanto andava. Seu medo constante era de que o resto do mundo estivesse sempre reparando no quanto era desengonçada e sem graça. Torcendo o nariz, balançando a cabeça em desaprovação.

Mas tudo o que Mariana queria era não ser notada. Não ser percebida.


29 setembro 2014

"Aceito"

postado por Manu Negri



Ele não sabia se as coisas tinham murchado pela escassez de surpresas ou se as surpresas estavam escassas porque as coisas tinham murchado.  O fato é que Marcelo estava disposto a mudar esse quadro. Aliás, não só mudar: dar um passo decisivo no relacionamento.

Dos 92 meses em que ele e Cláudia trocaram juras de amor, dormiram de conchinha, viajaram a dois e planejaram o futuro, os últimos 9 contavam mais com o presente e perdiam as contas das vezes em que um dos dois esquecia datas especiais. Marcelo se convenceu que era coisa da rotina, trabalho, cansaço. Uma vez, há uns 3 anos, ele pediu Cláudia em casamento enquanto tomavam a sexta taça de um vinho espanhol (de graça) na varanda da casa de seus pais, em uma festa de fim de ano (também de graça). Os olhos dela se encheram d'água um segundo antes de ela correr para o banheiro. Depois disso, ninguém mais tocou no assunto.

Não que fossem um casal tradicional, mas ele tinha a impressão de que Cláudia começou a pensar que estava mesmo demorando muito pra ele se ajoelhar, mostrar a caixinha de alianças e fazer a pergunta oficial. Deduziu isso depois de se despedirem certa vez no fim de semana, cada um voltando pra sua casa, enquanto reparava naquela expressão que ele chamou de "Ou caga ou quem sai da moita pra dar um rumo na vida sou eu, amado."

Marcelo separou um sábado pra comprar as alianças (tirou parte do dinheiro da poupança) e bolou o que, pra ele, seria a surpresa mais marcante dos quase 8 anos de namoro. Reservou uma mesa para dois em um dos restaurantes mais requintados e românticos da cidade e combinou com o garçom que, ao fim do jantar, ele entregaria para ela a conta junto com o anel. Marcelo sempre foi bem humorado, seria fácil dar umas risadas nessa hora; fácil como num primeiro encontro.

Cláudia estranhou o local escolhido, mas logo focou sua atenção no prato de entrada. Marcelo estava radiante de entusiasmo; ela, com o braço apoiado no queixo, parecia que já tinha visto de tudo nessa vida não uma, mas duas vezes. Entre assuntos como o tempo, a greve dos ônibus e se Paloma Raquel tinha ou não tinha matado a irmã na novela das nove, Marcelo tagarelava sem freios na língua. Cláudia resmungava entre goladas de soda.

Quarenta e cinco minutos depois, ele piscou para o garçom e pediu para encerrar. Lambeu os lábios, entrelaçou os dedos sobre a mesa e fitou Cláudia, que parecia um bocejo com pernas. O garçom entregou a conta para ela, mas a situação não provocou riso algum. Enquanto Cláudia abria tranquilamente o porta-comandas de couro preto, Marcelo (que mal conseguia se segurar) viu seu rosto mudar ao notar o brilho do anel dourado, numa expressão de completa perplexidade, e quase desmaiou quando ela se virou para o garçom e disse: "Aceito".


07 agosto 2014

Perda

postado por Manu Negri


Foto: shenanigan87

Marcos se sentou no banco da praça movimentada, ainda segurando o envelope azul aberto. Era difícil acreditar no que aquelas duas páginas ali dentro diziam, mas seu nome no cabeçalho não enganava, muito menos o diagnóstico. Uma doença em estágio terminal o mataria em 2 meses.

Passando os olhos do envelope para o chão, se imaginou avisando a família. Que, no seu mundo, significava os avós, os dois meios-irmãos distantes e Bolota, o gato. De qualquer forma, o quadro não parecia muito bom: gente chorando, abraçando, dizendo que Marcos era muito jovem, mas que Deus sabe o que faz (porém, se rezar bastante, talvez Ele repense melhor).

Do próprio Marcos, não caiu uma única lágrima.


09 julho 2014

Imagina depois da copa

postado por Manu Negri



Só imagina.

É o fim das ressacas, dos expedientes de meio horário, de foto com gringo na rua, dos memes, dos bolões na firma, desses negros maravilhosos, de dizer que o cheque da Dilma era sem fundo. 

É o fim da festa pra muita gente.

O depois da Copa veio depois da goleada da Alemanha.

Depois da Copa é hora de encontrar culpados. Nos craques, na zaga, na estratégia, na malandragem, na sombra do Neymar, no cheque da Dilma. 

Depois da Copa, a bandeira enrolada no corpo com muito orgulho e com muito amor vira cinzas nas ruas.

Depois da Copa, também aprendemos com as torcidas de outros países – sempre juntas de sua seleção, independente de vitórias ou derrotas – que futebol é isso: futebol. Às vezes o time ganha, às vezes perde – mesmo de goleada. E, dessa vez, somos a torcida daquele que perdeu.

Não estamos em campo, mas temos que saber jogar.

O Brasil continua sendo o único pentacampeão do mundo e está entre as 4 melhores seleções do momento. E, independente de placares, mesmo depois da Copa, esta continua sendo a Copa das Copas. 

Então, ao invés de querer apertar o botão reset, é melhor desapertar o pause e tocar a vida.  

Ou será que você, se pudesse voltar ao tempo sabendo do 7x1, escolheria não ter mais Copa?

Eu acho que não.


03 junho 2014

Dez centavos o minuto

postado por Manu Negri



– Feliz Natal, sua danadinha!

– Evandro? Meu Deus, que surpresa. São duas da manhã e faz quase um ano que não tenho notícias suas.

– Desde que morávamos sob o mesmo teto, meu bem. Como você está?

– Ótima. Ótima. Está tudo bem. Andei saindo mais com os amigos ultimamente, respirando novos ares. Até fiz um curso de sushi, acredita? Lembrei de como você adorava.

– Puxa, que bacana. Quem sabe um dia eu experimente, não é? Olha, aliás, esses meses têm sido incríveis. Vasculhei a Europa de cabo a rabo experimentando culinárias diferentes. Experiência inesquecível.

– Uau, Evandro, que bom. De verdade. Bom ver que você parece feliz. Está passando o Natal em casa?

– Estou na casa do Jorge, lembra dele? Jantamos juntos antes dos papéis saírem. Ainda trabalha na Souza & Filhos. Acabamos de acender a lareira, terminando de tomar um vinho. A esposa dele é uma simpatia e preparou de ceia uma torta de bacalhau realmente divina. Alô? Sônia? A ligação está falhando, você disse alguma coisa?

– Não, não disse.

– Pois então, onde você está comemorando? Na casa da minha ex-sogrinha?

– Não, esse ano a família se reuniu no nosso apartamento. Digo, no meu. Bom, a verdade é que eu queria que fosse nosso ainda, Evandro. Sinto falta do Evandro e da Sônia. Pronto, falei. Eu sei que você está em outra, que o acordo foi feito em paz, mas vou te confessar que nunca deixei de pensar nisso. Você podia estar aqui. Junto com meus pais, sobrinhos, tios. Ia ser muito mais legal, sabia? A noite começou com o cachorro comendo as castanhas da mesinha de centro da sala. Mas como o dia é de paz e harmonia, todo mundo riu. À meia noite a fome já tinha levado quase todo mundo pra mesa, e aquela ceia bonitinha de novela que eu tanto imaginei foi por água abaixo. Ainda tive que avisar que dia 25 chegou, senão ninguém ia prestar atenção. Começaram a bater palmas e a falar de boca cheia, chester caindo no prato, você pode imaginar. Na hora dos presentes, foi um pulando em cima do outro, tia Margarete rindo com um chiclete grudado no pino onde deveria estar o dente que caiu de manhã...

– Alô? Sônia? Não ouvi nada, a ligação ficou péssima. Ainda está aí?

– Estou sim. Disse que estamos todos em casa, nos divertindo. Tenho que desligar, tia Margarete engoliu o chiclete. Um beijo.


29 maio 2014

O primeiro voo

postado por Manu Negri



Sabe por que as pessoas não comem cocô?
É porque tem certas coisas que a gente não precisa provar pra saber que são ruins.

Este é o meu caso com aviões.