01 junho 2017

A DC acertou a mão em Mulher-Maravilha

postado por Manu Negri


Depois de me encantar com a trilogia do Batman (porque é Deus no céu e Christopher Nolan na Terra), assistir a 400 filmes do Homem-Aranha e me divertir com o pacote X-Men, cansei de super-heróis no cinema. Passo reto. Também não sei o que significa a guerra DC vs. Marvel. Hoje cheguei na ~firma, por exemplo, perguntando que treta era essa, e me informaram que os filmes da Marvel costumam ser mais leves e divertidos, enquanto os da DC são mais "realistas" e sombrios, e que Mulher-Maravilha era uma aposta pra fazer o nome do estúdio se fortalecer novamente depois de lançamentos de alguns embustes. Se eu estiver escrevendo bobagem, culpem meus colegas de trabalho.

Mas não foi isso que me fez mudar de comportamento e comprar um ingresso pra pré-estreia de Mulher-Maravilha ontem. Foi o fato de estarmos diante de uma adaptação dos quadrinhos com uma protagonista feminina, levantando a relevância do que significa representatividade de mulheres no cinema atualmente, e porque eu sou uma filha da pyta pedante que se importa com os mais de 90% de aprovação do filme no Rotten Tomatoes.

Eu não sei nada sobre a personagem Mulher-Maravilha original. Desde que eu era criança, achava que era a namoradinha do Super-Homem com um jatinho invisível e uma corda mágica. Desculpa, eu estava muito ocupada concentrando minha atenção no He-man e seu tigre verde que eu tinha de brinquedo. Mas, tudo bem, não importa; afinal, o filme não pode ser feito apenas para fãs dos quadrinhos, não é? O que vale julgar é o que assisti dentro dos 141 minutos de filme.

Mulher-Maravilha é um respiro gostoso dentro de um universo abarrotado de super-heróis masculinos, dirigido por uma mulher - algo bem incomum principalmente quando analisamos blockbusters -, Patty Jenkins, responsável por Monster (aquele ótimo filme em que enfeiaram a Charlize Theron para viver uma serial killer real) e pelas duas maravilhosas primeiras temporadas de The killing. Aqui, ela constrói uma sociedade assolada pela guerra que encontra Diana, princesa amazona, praticamente a personificação da esperança de que dias futuros possam ser mais cheios de arco-íris do amor.

Diana (Gal Gadot), nossa Wonder Woman, é filha da rainha Hipólita, da Ilha de Lesbos Themyscera, habitada unicamente por mulheres amazonas e guerreiras, donas de forte presença e de cenas visualmente belíssimas. Todas vivem em paz & comunhão até o dia em que o capitão Steve Trevor (Chris Pine) consegue, de alguma forma, fazer a travessia do "mundo real" para a ilha ao cair com seu avião (Lost feelings). Salvo por Diana, ele conta das batalhas que estão minando vidas em todo o planeta e passivamente a convence a seguir com ele, uma vez que Diana acredita que sua missão na Terra é combater Ares, o deus da guerra.  

A transição entre Themyscera e Londres, pra onde a dupla primeiramente vai, é feita sob o trabalho de uma fotografia que enaltece a verdadeira visão de um paraíso - céu azul, águas brilhantes e luz intensa - e a visão de uma sociedade decadente, suja, escura e caótica, com muitos tons de cinza e pontos embaçados. É onde começa a maioria das inserções de momentos cômicos que parecem ter sido cirurgicamente encaixados - um cabelim a mais poderia fazer com que ficassem forçados ou bobos demais. É adorável observar como Diana se comporta diante de um mundo totalmente novo para ela, entre noções de certo e errado do que ela aprendeu e do que existe ali, e coisas simples como portas giratórias, vestidos e relógios. Gal Gadot passa essas nuances muito bem, indo da inocência que Diana exige, à fúria, ideologia, força e compaixão que surgem ao longo do arco. Chris Pine também está ótimo na pele do capitão, um sujeito que passa longe dos machos alfa de filmes de ação, criando uma química com Gadot quase palpável. O grupo que acompanha Diana e Steven na guerra, formado pelas pessoas aparentemente mais improváveis do mundo numa guerra, que Deus me perdoe, possui uma relação e carisma mais interessantes do que aquele grupo de Rogue One. (o cu não tem nada a ver com as calças mesmo, mas foi uma questão de Rogue que me incomodou na época e da qual me lembrei ao assistir Mulher-Maravilha).  

Outro ponto positivo, pelo menos pra mim e que chamou minha atenção, foi em relação ao traje da Mulher-Maravilha: graças aos deuses não tem nenhum colant vermelho e minissaia azul; pelo contrário, a passagem de amazona de Themyscera para super-heroína do mundo "real" é feita de forma crível e orgânica, se adequando muito bem no contexto da história (destaque para a tiara, símbolo da personagem, e para a corda). Sem momentos Sailor Moon ou cabines telefônicas de troca de uniforme.

Outro grande ponto positivo é esse:




Por favor, vamos emoldurar o rosto dessa mulher e colocar em exibição em algum lugar. Mulher-Maravilhosa.

Apesar do uso frequente de câmera lenta em cenas de ação que fazem a gente prender a respiração, não tenho certeza se o recurso serviu para maquiar lutas mal coreografas e/ou mal dirigidas. Por sua vez, os vilões, na minha opinião, foram o aspecto mais fraco de Mulher-Maravilha: caricatos e unidimensionais demais - talvez um pouco menos no caso da "dra. Veneno", mas ficou só na imaginação. A tal batalha final, como toda batalha final de filme de herói, é extravagantes, cheia de pirotecnia e muito CGI, mas, né, nada novo sob o sol.

Por fim, a carga dramática, apesar de ligeiramente previsível e um pouco piegas, com discursos prontos, toca em reflexões relevantes sobre o que move e une os humanos: ódio, amor, indiferença, compaixão, perdão, ganância e sonhos.

Se os longas de super-heróis seguirem por esse caminho, é possível que eu vá mais vezes no cinema. :-)





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