03 julho 2016

DOIS filmes de terror decentes e UM ótimo

postado por Manu Negri


Quem ama filmes de terror sabe como é difícil hoje em dia encontrar um decente. Ótimo, então, é pra glorificar de pé. Às vezes é bom sairmos da zona de conforto da indústria hollywoodiana e procurarmos longas em outros cantos, que possivelmente vai sair coisa boa, como é o caso de dois filmes da Coreia do Sul que venho indicar hoje.


HUSH - A morte ouve


Vamos ignorar esse complemento podre "A morte ouve" do título brasileiro? Vamos. Hush é dirigido pelo jovem and promissor Mike Flanagan, que fez filmes como O espelho, O sono da morte (com o fofíssimo Jacob Tremblay, de O quarto de Jack) e já está na equipe de Ouija 2 - Origem do mal. Em Hush, conhecemos Maddie, uma escritora surda-muda que vive sozinha em uma casa no meio de um campo cheio de árvores sinistras e sem segurança alguma. Num belo dia, um doente sádico mascarado resolve aparecer por ali com um objetivo muito simples: matar Maddie. Assim, por diversão.


19 junho 2016

"A garota no trem" e o thriller psicológico feijão & arroz

postado por Manu Negri


Tenho uma suspeita de que, depois de obras como "A menina que roubava livros", "A menina que não sabia ler" e "A menina que brincava com fogo", novos autores começaram a achar que um dos passos da fórmula para o sucesso é enfiar um menina ou garota no título de seu livro. Talvez seja o caso de Paula Hawkins e sua garota no trem. Talvez.

De qualquer forma, o sucesso veio. A leitura fácil atraiu um grande público. O romance vendeu mais de 4 milhões de exemplares. Mas livros fáceis de se ler não significam, necessariamente, que sejam bons. Muito menos estar entre os mais vendidos. 50 tons de cinza taí pra todo mundo entender. Não que A garota no trem seja ruim, só não é o tipo de obra que te marca – é bom para passar o tempo, igual filme que você zapeia na TV a cabo, assiste, se diverte, e em seguida o esquece.

"Você não sabe quem ela é, mas ela conhece você", diz a capa do livro a respeito da nossa garota (que está mais pra uma mulher trintona). Não é bem assim, não. Rachel pega o mesmo trem de Ashbury para Londres todos os dias. Em determinado trecho, ele para no sinal vermelho. E é de lá que Rachel sempre observa a casa de número 15 e seus dois habitantes, um casal apaixonado que ela chama de Jess e Jason. Num belo dia, nossa garota-mulher observa, segundo a sinopse do livro, uma cena chocante (que de chocante tem porrãn nenhuma); e aí, pouco tempo depois, descobre que Jess – na verdade, Megan – está desaparecida.


14 junho 2016

"Como eu era antes de você": bonitinho, mas ordinário

postado por Manu Negri


Se você estiver procurando a publicação sobre o LIVRO, e não o filme, clique aqui.

Adaptado do best-seller de Jojo Moyes, Como eu era antes de você traz Emilia Clarke no papel da protagonista Louisa "Lou" Clark, uma jovem de 26 anos sem maiores perspectivas de vida que arranja emprego como cuidadora do tetraplégico Will Traynor (Sam Claflin), cuja condição foi responsável por deixá-lo, com o passar do tempo, amargo e infeliz.

Sobre a fidelidade em relação à obra original, tá todo mundo de parabéns. Roteirizado pela própria Moyes, o filme é praticamente um resumo do livro, com muitas falas preservadas, cenas marcantes e a linha divertida, apesar de parte da história se revelar um drama delicado sobre um tema espinhoso (falarei mais pra frente, com spoilers). Emilia Clarke está adorável e engraçada como Lou, sem qualquer sombra de Daenerys Targaryen, personagem que a tornou tão famosa em Game of Thrones. Mesmo quando Lou se via sem saída em algumas situações, foi impossível imaginá-la mandando um DRACARYS. Sam Claflin também faz um bom trabalho como Will, sarcástico e distante na medida certa, vulnerável quando tem que ser, trazendo à tona o sofrimento, resignação e tristeza do personagem. Quanto à química entre os dois, não tenho do que reclamar.

Nunca pensei que sobrancelhas pudessem ser tão expressivas.


09 maio 2016

"Antes de dormir", de S. J. Watson – livro e filme

postado por Manu Negri


Tess Gerritsen, autora de thrillers famosos como O cirurgião, Jardim de Ossos e Desaparecidas (que resultaram numa série baseada na dupla de detetives: Rizzoli & Isles) escreveu, como consta na capa, que Antes de dormir é simplesmente o melhor romance de estreia que ela já leu. Olha, Tess, Antes de dormir é muito bom mesmo, mas você tá precisando ler mais romances de estreia pra melhorar essa concepção.

Lembra daquele filme bonitinho do Adam Sandler (é, às vezes ele acerta) com a Drew Barrymore, chamado Como se fosse a primeira vez? Então. Antes de dormir é mais ou menos aquela história, trocando o gênero comédia romântica por suspense. O livro é narrado por Christine Lucas, uma mulher de meia idade que, após sofrer um trauma grave, adquire um tipo incomum de amnésia: ela consegue reter informações durante um dia inteiro, mas, ao dormir e acordar nas manhãs seguintes, continua encarando seu marido – Ben – como um estranho. Christine então descobre, através de seu médico, que mantém um diário para não perder o que acontece em sua vida. Mas, para sua surpresa, ao passar a primeira página, a primeira frase que lê é "não confie em Ben".

S. J. Watson tem muitos méritos por agarrar a dificuldade de mostrar um personagem acordando todos os dias sem saber onde e com quem está e conseguir manter uma atmosfera de suspense contínua, sem ficar cansativo. Usar o diário como parte da narrativa do livro e como forma da Christine passar os dias se descobrindo aos poucos ajuda a dar fluidez, ainda que algumas situações e pensamentos da personagem fiquem um pouco repetitivos - o que acho coerente com o que está acontecendo.


21 abril 2016

Suspense, facas e drogas em "Objetos cortantes", de Gillian Flynn

postado por Manu Negri


Ah, Gillian Flynn. Apenas dois livros de sua autoria que eu li e já caí de amores. Pena que só existem três. Aguardo ansiosamente pelo próximo lançamento.

Ao contrário de Josh Malerman, que estreou no mundo literário com o horrendo Caixa de Pássaros, Flynn conseguiu sambar e fazer um espacate em cima da cara da sociedade com sua primeira obra, Objetos cortantes. A história é narrada em primeira pessoa por Camille Preaker, uma jornalista meia boca de Chicago que é obrigada a voltar à sua cidade natal, a pequena Wind Gap, para construir uma matéria a respeito do assassinato de uma garotinha e do desaparecimento misterioso de outra. Sem recursos e recém-saída de um hospital psiquiátrico, onde foi internada para tratar sua tendência à automutilação, Camille se hospeda na casa da mãe neurótica – quem não vê há anos –, do padrasto e da meia-irmã de 13 anos que mal conhece.

Assim como em Lugares escuros e Garota exemplar (que não li, mas assisti ao filme, então dá pra ter uma ideia), Flynn choca o público-leitor ao trazer um drama com elementos perturbadores, muita tensão e um nível de compreensão impressionante das camadas mais imperfeitas do ser humano. Desde as primeiras páginas a gente sabe que está nas mãos de uma rainha. Ela constrói com paciência os passos que Camille dá para tentar encontrar respostas sobre o crime, enquanto revive memórias doloridas do passado e tenta se relacionar não só com a família que deixou em Wind Gap, mas com seus próprios demônios, estabelecendo uma ligação forte de empatia com ela.