09 maio 2016

"Antes de dormir", de S. J. Watson – livro e filme

postado por Manu Negri


Tess Gerritsen, autora de thrillers famosos como O cirurgião, Jardim de Ossos e Desaparecidas (que resultaram numa série baseada na dupla de detetives: Rizzoli & Isles) escreveu, como consta na capa, que Antes de dormir é simplesmente o melhor romance de estreia que ela já leu. Olha, Tess, Antes de dormir é muito bom mesmo, mas você tá precisando ler mais romances de estreia pra melhorar essa concepção.

Lembra daquele filme bonitinho do Adam Sandler (é, às vezes ele acerta) com a Drew Barrymore, chamado Como se fosse a primeira vez? Então. Antes de dormir é mais ou menos aquela história, trocando o gênero comédia romântica por suspense. O livro é narrado por Christine Lucas, uma mulher de meia idade que, após sofrer um trauma grave, adquire um tipo incomum de amnésia: ela consegue reter informações durante um dia inteiro, mas, ao dormir e acordar nas manhãs seguintes, continua encarando seu marido – Ben – como um estranho. Christine então descobre, através de seu médico, que mantém um diário para não perder o que acontece em sua vida. Mas, para sua surpresa, ao passar a primeira página, a primeira frase que lê é "não confie em Ben".

S. J. Watson tem muitos méritos por agarrar a dificuldade de mostrar um personagem acordando todos os dias sem saber onde e com quem está e conseguir manter uma atmosfera de suspense contínua, sem ficar cansativo. Usar o diário como parte da narrativa do livro e como forma da Christine passar os dias se descobrindo aos poucos ajuda a dar fluidez, ainda que algumas situações e pensamentos da personagem fiquem um pouco repetitivos - o que acho coerente com o que está acontecendo.


21 abril 2016

Suspense, facas e drogas em "Objetos cortantes", de Gillian Flynn

postado por Manu Negri


Ah, Gillian Flynn. Apenas dois livros de sua autoria que eu li e já caí de amores. Pena que só existem três. Aguardo ansiosamente pelo próximo lançamento.

Ao contrário de Josh Malerman, que estreou no mundo literário com o horrendo Caixa de Pássaros, Flynn conseguiu sambar e fazer um espacate em cima da cara da sociedade com sua primeira obra, Objetos cortantes. A história é narrada em primeira pessoa por Camille Preaker, uma jornalista meia boca de Chicago que é obrigada a voltar à sua cidade natal, a pequena Wind Gap, para construir uma matéria a respeito do assassinato de uma garotinha e do desaparecimento misterioso de outra. Sem recursos e recém-saída de um hospital psiquiátrico, onde foi internada para tratar sua tendência à automutilação, Camille se hospeda na casa da mãe neurótica – quem não vê há anos –, do padrasto e da meia-irmã de 13 anos que mal conhece.

Assim como em Lugares escuros e Garota exemplar (que não li, mas assisti ao filme, então dá pra ter uma ideia), Flynn choca o público-leitor ao trazer um drama com elementos perturbadores, muita tensão e um nível de compreensão impressionante das camadas mais imperfeitas do ser humano. Desde as primeiras páginas a gente sabe que está nas mãos de uma rainha. Ela constrói com paciência os passos que Camille dá para tentar encontrar respostas sobre o crime, enquanto revive memórias doloridas do passado e tenta se relacionar não só com a família que deixou em Wind Gap, mas com seus próprios demônios, estabelecendo uma ligação forte de empatia com ela.


15 abril 2016

Filmes da semana #7: documentários imperdíveis

postado por Manu Negri



O último post da série Filmes da Semana foi em, socorro, novembro do ano passado. Não que eu tenha parado de assistir a filmes, mas quis reunir o máximo de nomes possíveis do Oscar pra comentar num texto só sobre ele. Pena que minhas observações a respeito dos indicados às principais categorias acabaram ocupando duas linhas cada um, pro post não ficar gigantesco. Fuén. :-/

Mas, pra voltar com tudo e inaugurar a primeira publicação da série deste ano, trago três recomendações de documentários incríveis pra vocês tentarem assistir neste fim de semana.


THE HUNTING GROUND


The hunting ground aborda um assunto pesado, delicado e perturbador: os inúmeros casos de estupros nos campi universitários americanos. É praticamente uma epidemia. Através de dados chocantes e depoimentos emocionantes de vítimas, o documentário mostra como as administrações das instituições se preocupam mais em encobrir os fatos do que resolvê-los e proteger os estupradores ao invés de dar suporte aos sobreviventes, movidas por puro machismo e, claro, interesses financeiros. Enquanto algumas meninas chegam ao triste fim do suicídio, outras tentam seguir em frente lutando por justiça e educação em um meio que insiste em dizer que a culpa é sempre, sempre da mulher.

Felizmente, The hunting ground ganhou bastante notoriedade ao ser indicado ao Oscar por Melhor Canção Original – Till it happens to you, interpretada pela Lady Gaga em uma peformance de arrepiar que levou várias vítimas reais de abuso ao palco da cerimônia. Espero muito que o buzz ajude a transformar, mesmo que aos poucos, a realidade das estudantes desses campi.


10 abril 2016

O fantástico livro Novembro de 63 e a minissérie 11.22.63

postado por Manu Negri


Novembro de 63 é o meu segundo livro favorito do Stephen King e um dos favoritos da vida. Tijolão, do jeitinho que eu gosto. É por isso que, com muita alegria no coração, me preparei durante dois meses pra assistir à minissérie baseada na obra que estreou em fevereiro, produzida por J. J. Abrams (Lost, Cloverfield e Star Wars – O despertar da força) e com James Franco no papel do protagonista.

Jake Epping é um modesto professor inglês de Lisbon, Maine (sempre, sempre o Maine), que conhece uma fenda do tempo localizada dentro da despensa do restaurante de seu grande amigo, Al. Uma vez que você passa por essa fenda, você é lançado diretamente para o ano de 1958 e pode ficar à vontade por lá, porque cada vez que você retorna só se passam 2 minutos no tempo presente. Al, cansado de transitar entre os dois universos e bastante doente, incumbe Jake de uma importante missão: impedir o assassinato do presidente Kennedy em novembro de 1963.

Ahhh, mais uma história de viagem no tempo, você deve estar pensando. É. Mas não uma viagem qualquer: primeiro, que é escrita com toda a maestria do King; segundo, o contexto, regras das viagens e efeitos borboleta são extremamente coesos e, terceiro, é tudo embasado em muita, muita pesquisa a respeito de acontecimentos reais que só contribuem para que o drama fique bem amarrado, verossímil e envolvente.

Tá bom. Mas, Manu, de 1958 a 1963 são 5 anos. Qual o tipo de linguiça que o autor chuchou aí? Nenhuma, amigos. King tem, mais uma vez, a minha admiração pelo que ele conseguiu construir aqui. Com base nas muitas anotações de Al, Jake teve esse tempo todo para iniciar sua trajetória de se adaptar ao novo (ou melhor, velho) mundo, viver sob nova identidade e vigiar bem de perto Lee Harvey Oswald, o verdadeiro acusado de ser o assassino do presidente. O ex-marine americano que derrotou a então União Soviética voltou para os EUA com sua esposa, a russa Marina, para poucos anos depois deixar sua marca na História.


09 abril 2016

"Caixa de pássaros" é uma cilada, Bino!

postado por Manu Negri


Caixa de pássaros figurou como um dos destaques do Skoob por um bom tempo, mas eu só o incluí na minha meta do ano depois que um amigo (que conhece meu apreço por histórias de suspense) me indicou. Foi amor à primeira lida da sinopse: achei a premissa superintrigante, um livro que tinha tudo pra ser uma obra inesquecível do gênero, escrito por um carinha estreante.

Eu estava certa. É mesmo inesquecível.
De tão merda.

Acompanhe comigo: Malorie tenta sobreviver num mundo pós-apocalíptico sozinha, com seus dois filhos pequenos. Quatro anos antes, o planeta inteiro sofreu um surto bizarro de suicídios, precedidos de comportamentos ultraviolentos das pessoas. Aos poucos, chega-se à conclusão de que essas vítimas teriam visto alguma coisa misteriosa que despertou a reação desmedida. Com isso em mente os assombrando, os sobreviventes arrumavam maneiras de seguir a vida a partir de uma única regra: é proibido olhar pro lado de fora de casa.

Fala sério, sinopse do caramba, não? Li Caixa de pássaros em menos de seis dias, um recorde pessoal que não quebro há MUITO tempo, por dois motivos: 1) é ridiculamente fácil de ler e 2) fui movida por uma curiosidade insana de descobrir o mistério. O problema é quando é fácil de ler porque a narrativa é pobre e você não fica nem um pouco satisfeita com o desfecho da história.