11 maio 2018

Sobre WHAT REMAINS OF EDITH FINCH, vencedor do "Oscar dos videogames"

postado por Manu Negri


Há um ano era distribuído pela Annapurna Interactive o game de suspense e aventura da Giant Sparrow que, em 2018, ganharia o BAFTA Games Awards de "Melhor jogo" – contrariando as apostas em Horizon Zero Dawn, sobre o qual já falei aqui. Disponível para PC, PS4 e Xbox One, What remains of Edith Finch conta a triste história das gerações da família Finch, que acreditava estar sob alguma maldição, já que os seus membros costumam morrer de forma trágica e repentina.

No jogo, estamos na pele de Edith, última da linhagem dos Finch, que retorna à antiga casa de seus antepassados anos depois de uma tragédia. Finalmente livre para explorar o lugar, ela tem a oportunidade de conhecer todos os cantos por onde viveram, já que praticamente cada cômodo da casa pertenceu a um Finch e sobreviveu até o momento como um grande memorial e um ode às suas (muitas vezes curtas) existências. Com um caderninho em mãos, nós, como Edith, passamos a reconstruir a árvore genealógica da família ao descobrirmos passagens secretas e quartos escondidos à medida que somos convidados a experimentar o último dia de vida de cada pessoa


26 abril 2018

O HOMEM DE GIZ bebeu da fonte de King, mas não matou minha sede

postado por Manu Negri


(Enquanto pensava se o título desse post era barango ou não, apertei o botão de publicar.)

Aviso: este texto contém spoilers.

Venderam O homem de giz pra mim como um livro escrito por uma grande fã de Stephen King, com várias referências a obras do muso. No próprio Skoob, a frase "Assassinato e sinais misteriosos em uma trama para fãs de Stranger Things e Stephen King" engorda a campanha de marketing. Opa, rapaz, é assim que se joga uma isca pra mim. Agarrei direitinho e me dirigi ao setor de compras da livraria online mais próxima e, na noite do mesmo dia, dei início à leitura.

"Em 1986, Eddie e os amigos passam a maior parte dos dias andando de bicicleta pela pacata vizinhança em busca de aventuras. Os desenhos a giz são seu código secreto: homenzinhos rabiscados no asfalto; mensagens que só eles entendem. Mas um desenho misterioso leva o grupo de crianças até um corpo desmembrado e espalhado em um bosque. Depois disso, nada mais é como antes.

Em 2016, Eddie se esforça para superar o passado, até que um dia ele e os amigos de infância recebem um mesmo aviso: o desenho de um homem de giz enforcado. Quando um dos amigos aparece morto, Eddie tem certeza de que precisa descobrir o que de fato aconteceu trinta anos atrás.
Alternando habilidosamente entre presente e passado, O Homem de Giz traz o melhor do suspense: personagens maravilhosamente construídos, mistérios de prender o fôlego e reviravoltas que vão impressionar até os leitores mais escaldados."

"Personagens maravilhosamente construídos, mistérios de prender o fôlego e reviravoltas que vão impressionar até os leitores mais escaldados."



16 abril 2018

Um suspiro a cada página de ME CHAME PELO SEU NOME

postado por Manu Negri


É com o coração em frangalhos, semirecuperada de três metros de ranho escorrendo pelo nariz, que venho falar de Me chame pelo seu nome – o livro que está marcando minha volta definitiva à leitura, parcialmente abandonada de um ano pra cá.

ABAIXA QUE É TIRO

Escrita pelo ítalo-americano-egípcio (eita!) André Aciman, a trama é narrada pelo protagonista Elio, um adolescente de dezessete anos que está passando as férias na casa da família, em um paraíso da costa italiana (chamada apenas de "B."), parada certa de amigos, vizinhos, artistas e intelectuais de todos os lugares. Filho de um importante professor universitário, o jovem está bastante acostumado à rotina de, a cada verão, hospedar por seis semanas na villa da família um novo escritor que, em troca da boa acolhida, ajuda seu pai com correspondências e papeladas. Uma cobiçada residência literária que já atraiu muitos nomes, mas nenhum deles como Oliver.

Elio imediatamente, e sem perceber, se encanta pelo americano de vinte e quatro anos, espontâneo e atraente, que aproveita a temporada para trabalhar em seu manuscrito sobre Heráclito e, sobretudo, desfrutar do verão mediterrâneo. Da antipatia impaciente que parece atravessar o convívio inicial dos dois surge uma paixão que só aumenta à medida que o instável e desconhecido terreno que os separa vai sendo vencido.



09 abril 2018

UM LUGAR SILENCIOSO não me deixou em paz

postado por Manu Negri


Um lugar silencioso é o mais novo filme da princesa Emily Blunt, dirigido pelo seu marido John Krasinski (o Jim de The Office), enquadrado nessa nova e maravilhosa onda dos filmes de horror, para o qual eu não estava dando nada mesmo depois dos trailers, até as pessoas começarem a falar bem, porque eu sou Maria-vai-com-as-outras, e é isto.

A sinopse, sobre uma família que vive numa casa de campo em absoluto silêncio, se comunicando através de sinais, na tentativa de sobreviver à uma ameaça desconhecida atraída por sons, me lembrou a trama de Caixa de pássaros. Só que, no caso dela, a ameaça é algo que a pessoa VÊ e a mata em seguida. O livro é uma merda, o filme será lançado num futuro próximo na Netflix com a Sandra Bullock protagonizando, mas, se a produção conseguir fazer com que a adaptação seja ótima como é Um lugar silencioso, eu serei obrigada a gongar Caixa de pássaros só pela metade.

Um lugar silencioso é mais uma prova de que eu não sobreviveria muito tempo em ambientes pós-apocalípticos (no caso, eu morreria antes de ser pós). Para garantir o oxigênio de cada dia, é preciso andar nas pontas dos pés, em areias macias, ter movimentos delicados e vagarosos, sussurrar e, de preferência, se comunicar por sinais. Não pode cantar ópera, não pode assoviar, não pode peidar alto. Do contrário, criaturas extremamente nojentas numa versão upgrade do Demogorgon vêm rapidinho arrancar seus membros numa patada. Aliás, o visual delas é bem perturbador, principalmente quando mostram a cavidade auricular responsável pela sua audição superpotente. Denotam toda a aura de perigo e morte que a produção, provavelmente, ansiava.


22 março 2018

O amor que transcende espaço e tempo em PACIÊNCIA

postado por Manu Negri


Não sou das maiores leitoras de quadrinhos (infelizmente, e por enquanto), mas topei com a existência de Paciência naquela considerada a melhor rede social da world wide web: o Twitter. Na ocasião, alguém retuitou um desconhecido elogiando a obra e usando as palavras mágicas que deixaram minhas anteninhas ligadas: "viagem no tempo". Não precisei nem de dez minutos pra comprar um presente pra mim mesma.

Quando abri o pacote de papelão dos Correios, pouco tempo depois (ou seja, um milagre), me deparei com um trem tão lindo que deu vontade de folhear com luvas, pra não correr o risco de estragar. Capa cartonada, um acabamento gráfico sensa, hot stamping no título e muitas cores. Joguei o pacote no lixo do quarto e já fui deitando na cama; um par de horas depois e eu havia concluído a leitura.

Paciência levou cinco anos para ser produzida por um dos principais nomes dos quadrinhos indie norte-americanos – Daniel Clowes. O sujeito, pelo que andei fuçando, tem muitos fãs, outros títulos premiados, adaptação pro cinema, e esse seu trabalho mais recente já ganhou espaço em listas de melhores quadrinhos de 2017. O segredo para tanto sucesso talvez tenha parte na estratégia de Clowes em não deixar uma sinopse na contracapa, apenas uma frase misteriosa: "Uma viagem cósmica através do espaço-tempo rumo ao infinito primordial do amor eterno". E, se posso começar falando alguma coisa sobre potencializar sua experiência com essa HQ, é justamente "quanto menos você souber a história, melhor".