16 novembro 2016

Faltou sustança em 'Pequeno Segredo'

postado por Manu Negri


Você já tinha ouvido falar nos Schürmann? Se sempre costuma acompanhar os noticiários, então provavelmente sim. Mas, se não: eles são uma família de Florianópolis famosa por velejar ao redor do mundo, sendo, inclusive, a primeira família brasileira a circunavegar o mundo num veleiro. Lançaram livros. Deram entrevistas. E, agora, fazem filmes.

Pequeno segredo é baseado em um dos livros, escrito por Heloísa, a mãe, chamado Pequeno segredo – A lição de vida de Kat para a família Schürmann, que conta a história de como a filha caçula Kat conseguiu transformar sua rotina para melhor. Transformação que tem a ver com esse tal segredo e que, ao contrário de sinopses irresponsáveis por aí, não vou revelar, pois se trata do maior spoiler do filme. Claro que se você por um acaso já acompanhou esse aspecto da vida dos Schürmann, não será surpresa nenhuma.

Pequeno segredo estreou no Brasil neste mês após rolar uma polêmica com a comissão nacional que escolheu o filme para tentar uma vaga na corrida do Oscar 2017, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, em detrimento de Aquarius - um longa até então premiadíssimo no mundo inteiro e grande favorito para representar o Brasil (escrevi sobre ele aqui). Parte da crítica quase morreu de desgosto com a surpresa. Muitos apontam critérios políticos, e não cinematográficos, da escolha; afinal, a equipe de Aquarius protestou contra o impeachment da ex-presidenta Dilma no Festival de Cannes deste ano. Bom, se foi treta política, eu não sei (mas não duvido nem um tico). E agora que assisti aos dois, posso dizer que Aquarius e Pequeno segredo são longas bastante diferentes entre si, mas achei o primeiro de fato superior. Muito superior.


07 novembro 2016

Escuridão total sem estrelas - Stephen King

postado por Manu Negri


"As histórias neste livro são chocantes. Você pode ter achado difícil lê-las em alguns momentos. Se foi o caso, posso lhe assegurar que também achei difícil escrever as histórias em alguns momentos."

Eu adoro os contos do Mestre King. Alguns deles, inclusive, são tão memoráveis que viraram filmes ótimos, como Um sonho de liberdade (baseado em Rita Hayworth e a redenção de Shawshank), Conta comigo (baseado em O corpo) e O nevoeiro (baseado no conto de mesmo nome). Os dois primeiros você encontra no livro Quatro estações.

Os contos de Escuridão total sem estrelas, na minha opinião, não batem esses três aí, mas são todos muito bons. O horror tão típico da carreira de King tem, em duas das histórias, envolvimento com acontecimentos sobrenaturais, mas está predominantemente relacionado com pessoas comuns, como a gente. Do que as pessoas são capazes? Quais são os seus limites? Será que conhecemos tão bem uma pessoa a ponto de "colocarmos a mão no fogo" por ela? Não parece possível que o rapaz que ajuda idosos a atravessarem a rua seja, secretamente, um serial killer?

Parece.


26 outubro 2016

7 motivos para assistir Westworld, a nova série da HBO

postado por Manu Negri


Se você num tá nem sabendo de nada, deixa eu apresentar: Westworld é a nova série que estreou na HBO no dia 2 de outubro, inspirada no filme de mesmo nome lançado em 1973 e dirigido por Michael Crichton. Ainda estamos no episódio 4 dos 10 previstos para essa primeira temporada, mas é certo que a série já conseguiu fisgar a atenção de uma boa fatia de espectadores, especialmente nessa época de hiatus de outras séries. Dizem, inclusive, que Westworld chegou para ocupar o vazio que Game of Thrones deixará em nossos corações, agora que seu fim se aproxima. Se é verdade, eu não sei, mas eu já trouxe alguns bons motivos pra você começar a acompanhar a história:


1. Essa é a mistura do Velho Oeste com Sci-fi  


Tem que ter charme pra dançar boniiiiito! (não rima, foda-se)

Eu confesso que nem Velho Oeste e nem Sci-fi são gêneros que me atraem. Mas em Westworld essa junção parece beeem promissora, ainda mais com esse ingrediente que eu amo tanto chamado mistério. Não tem nada de viagem no tempo e nem extraterrestres invadindo saloons; a história é a seguinte: Westworld é um PARQUE DE DIVERSÕES temático ultramoderno do futuro e ambientado no Velho Oeste (arrá), que recebe "jogadores" milionários de todos os cantos para literalmente viver o personagem que quiserem nesse mundo particular. Por 40 mil dólares por dia, você escolhe sua roupa, sua arma, seu chapéu e vive aventuras junto de muitos outros personagens que estão em Westworld especialmente para servi-lo: bandidos, prostitutas, donzelas, mocinhos, padres, bêbados, caçadores de recompensa e por aí vai. O detalhe é que esses personagens do jogo, apesar de serem exatamente iguais a humanos na aparência e no comportamento, na verdade são androides fodasticamente construídos para viver roteiros próprios dentro de seus universos. Jogadores humanos não podem morrer em Westworld, mas podem "matar" os androides; eles nunca se lembram das várias vidas que vivem justamente por não terem consciência e nem lembranças, sendo limpos, reestruturados e analisados diariamente.

Mas algo nos diz que isso está para mudar.

Esse é o grande lance de Westworld. À medida que passamos a sentir empatia pelos androides e algum nível de identificação – afinal, eles choram, sentem dor, sangram e têm suas próprias histórias como se fossem um de nós –, eles começam a ter sinais de que estão se recordando de outros dias que viveram e morreram, lutaram, conversaram e se envolveram com outros androides e jogadores. Mais: estão começando, de algum modo, a desenvolver consciência. Quais serão as consequências disso para os criadores do parque e para os jogadores que estão lá?


18 outubro 2016

Filmes da semana #9: filmes coreanos surpreendentes

postado por Manu Negri


Ó, já falei pra parar de preconceito bobo com filme oriental, né? E pra sair dessa bolha de Netflix porque ela, apesar de maravilhosa, não é a guardiã de todos os grandes filmes do mundo. Tem muita obra legal esperando pra entrar na fila do seu uTorrent.

POIS BEM.

Se seu último contato com coreanos tem a ver com a Sun de Sense8 ou com o cara que vende óculos de sol no calçadão, aproveita o Filmes da Semana da vez porque as indicações são três ótimos longas sul-coreanos que podem abrir seus olhos (escrota) para o cinema do lado de lá.


Train to busan


Train to busan, mais conhecido na minha mente como TREM PRO BUSÃO ou no título oficial brasileiro INVASÃO ZUMBI (cof, cof, gasp bleeerrrgh me leva, Deus), como este último sugere, é um filme sobre zumbis.

Calma, não passe para o próximo da lista ainda. Eu mesma nunca fui fã de histórias com zumbis, mas esse me fisgou (REC e Guerra Mundial Z também constam na patota). Train to busan conta a história de um gestor financeiro do tipo que dá mais importância pro trabalho do que pra família, completamente egoísta e distante, que vai levar a filhinha pra casa da ex-esposa pegando um trem de Seul para Busan. Segundos antes das portas dos vagões se fecharem, uma mulher infectada por vocês sabem o quê entra às pressas tentando fugir de vocês também sabem o quê, causando o velho e conhecido caos na Terra.  


14 outubro 2016

Auschwitz: o testemunho de um médico

postado por Manu Negri

Portão principal de Auschwitz com a inscrição "O trabalho liberta"

Só de ler a palavra "Auschwitz" em qualquer lugar já dá um arrepio na espinha. Isso porque o único acesso que temos às atrocidades ocorridas por lá vem de livros, filmes, documentários, reportagens e entrevistas. Imagine vivendo de perto.

Muito já foi falado sobre o Holocausto, quase à exaustão, em todos esses tipos de mídia. Mas acredito que o livro Auschwitz – O testemunho de um médico, escrito por Miklos Nyiszli, seja uma contribuição diferente. Afinal, além de ter sobrevivido pra relatar à História, o cara viveu no campo de concentração durante meses, com certas regalias, sob comando do conhecido dr. Mengele – que se tornou infame por ter atuado como cientista durante o regime nazista. E, tão importante quanto, o livro serve de registro em uma era que, por incrível que pareça, tem gente com a capacidade de questionar a existência desse genocídio. Aliás, a título de curiosidade: em 2007, entrou em vigor uma lei sancionada pela União Europeia que pune com prisão quem negar o Holocausto. Em 2010, a UE também criou a base de dados europeia EHRI para pesquisar e unificar arquivos sobre o assunto.

Miklos foi um judeu criminologista húngaro antes de trabalhar forçadamente em Auschwitz, como médico do Sonderkommando. Os Sonderkommandos eram os grupos de judeus recrutados assim que chegavam aos campos, obrigados a executar tarefas penosas que os soldados alemães não gostariam de fazer, como enterrar os corpos dos prisioneiros mortos e limpar as câmaras de gás. Em troca, podiam comer melhor que o restante dos judeus, vestir-se bem, tomar banhos e dormir em locais mais decentes, mas eram eliminados a cada 3 ou 4 meses para dar lugar a novos grupos. Agora, imagine só como devia ser para os Sonderkommandos ter que lidar com a morte de seus companheiros diariamente, ou até acabar encontrando um, pai, mãe ou filho entre os cadáveres? PESADÍSSIMO, terrível, cruel demais.