01 janeiro 2019

Os melhores filmes assistidos em 2018

postado por Manu Negri


Chegou o primeiro post de 2019!

Seguindo a decepção e frustração anual de nunca conseguir passar de 100 filmes assistidos em 365 dias, é hora, amiguinhos e amiguinhas, de apresentar a lista que ninguém pediu dos 15 melhores longas apreciados por moi em 2018.

Passei uns bons minutos enquanto tomava meu Toddynho pré-sono (seria o vício retornando?) encaixando minha seleção no ranking, porque não foi uma tarefa muito fácil. Então pensem que é como os filmes a seguir estivessem todos espremidos no meu Top 10 do ano e eu só tive que abrir mais espaço.



15. VIVA: A VIDA É UMA FESTA (Coco), de Lee Unkrich, 2017 | Trailer

Fazia tempo que uma animação da parceria Disney + Pixar não me emocionava tanto, apesar de eu guardar Divertidamente com muito carinho no coração.

Ganhador do Oscar de Melhor Filme de Animação de 2018 e muitíssimo injustamente de Melhor Canção Original, ele conta a história de Miguel, um jovem aspirante a músico que embarca em uma extraordinária viagem à terra mágica de seus ancestrais. Lá, Heitor, um encantador malandro, torna-se um inesperado amigo que ajuda Miguel a descobrir os mistérios por trás das histórias e tradições de sua família.

Viva: a vida é uma festa é uma linda explosão de cores, numa construção muito charmosa do que seria o mundo dos mortos (bem mais animado e feliz que o nosso, já que ninguém precisa mais pagar boletos), com personagens cativantes, lições para levar pra vida e um desfecho que me deixou literalmente jogada no sofá, soluçando.




14. ROMA, de Alfonso Cuarón, 2018 | Trailer

Roma é um filme simples. Mas não é na simplicidade que a gente encontra beleza? E esse filme tem beleza de sobra, a começar pela fotografia maravilhosa em preto e branco, que deixa você contemplar bem sossegado entre um plano longo e outro. Neles, Cleo, uma empregada de uma família de classe média mexicana dos anos 1970, limpa a casa, brinca com as crianças, se apaixona, sofre e é envolvida por mudanças que acabam impactando todos os personagens.

Escrito, dirigido, fotografado, produzido e coeditado por essa princesa 1001 utilidades, Alfonso Cuarón, Roma – cujo nome remete ao distrito mexicano Colonia Roma – é distribuído pela Netflix, sucesso de crítica mundial, já indicado ao próximo Globo de Ouro e está no shortlist do Oscar de candidatos a Melhor Filme Estrangeiro (e há quem diga que ele ainda pode concorrer na categoria de Melhor Filme).

Enquanto eu assistia à Roma, foi impossível não me lembrar do brasileiro Que horas ela volta?. No fim das contas, apesar de todo o encantamento (guardem suas pedras), acabei preferindo este segundo.

"Nós, mulheres, estamos sempre sozinhas." 



13. INFILTRADO NA KLAN (BlacKkKlansman), de Spike Lee, 2018 | Trailer

Um judeu e um negro infiltrados na Ku Klux Klan na década de 1970 aprontando altas confusões como uma dupla da pesada. Parece mais uma obra bem louca de ficção, mas Infiltrado na Klan é baseado em fatos, meu rapaz.

Estrelado por Adam Driver (que, assim como Javier Bardem, não sabemos que se é bonito ou tem apenas um charme) e por John David Washington (esse é gato mesmo), o filme retrata a operação da polícia do Colorado que, com esses dois detetives, conseguiu sabotar linchamentos e crimes de ódio orquestrados pelos racistas da seita.

Achei incrível como o diretor conseguiu dosar MUITO bem o humor dentro de um contexto bem pesado, apresentando os membros da Ku (rs) como completos imbecis (merecido), ao mesmo tempo que deixa claro que imbecis separados são engraçados, mas, juntos, podem ser perigosos (bom, o Brasil e o mundo de hoje que o digam)

Em Infiltrado na Klan, prepare-se para dar gostosas risadas e levar um belo soco no estômago, principalmente no fim do filme, lembrando-nos de que ideias bizarras como supremacia racial têm seu lugar mesmo 40 anos depois. É preciso ficar de olhos bem abertos.




12. UMA MULHER FANTÁSTICA (Una mujer fantástica), de Sebastián Lelio, 2017 | Trailer

Transfobia e luto fazem parte da trama de Uma mulher fantástica, Ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2018. Marina, mulher trans (vivida pela atriz também trans Daniela Vega), se vê diante da raiva e preconceito da família do seu parceiro quando este morre.

Num retrato sensível da sua luta pelo direito de sofrer pela perda de alguém que ama, e de sua luta diária para viver como mulher, o filme mostra os inimigos "invisíveis" de Marina (como em uma cena simbólica em que ela é levada para trás pela força de uma ventania) e todas as formas escrotas que ela é contestada, querendo invalidá-la por não ter nascido com uma pepeca.

Não quero dar spoilers, mas há um momento simplesmente sensacional em que Marina, nua, se olha por um espelhinho. As sutilezas me ganharam durante todo o tempo em tela.   




11. MUDBOUND: LÁGRIMAS SOBRE O MISSISSIPI (Mudbound), de Dee Rees, 2017 | Trailer

Pensa num filme redondinho.

Baseado no livro de Hillary Jordan, Mudbound se passa após a Segunda Guerra Mundial e segue uma mulher que se muda com o marido para a fazenda dele no Mississipi, assim como dois veteranos da guerra, um negro e um branco, que vão trabalhar no local que ainda é regido pelas Leis que estabeleciam limites entre brancos e negros.

Que eu me lembre, é uma história longa, com algumas "fases", que me tocou pela força e sensibilidade ao representar o racismo de uma era e de uma região megapreconceituosa, além do machismo, a resistência da mulher diante das convenções sociais, o trauma de soldados pós-guerra e como a empatia pode quebrar barreiras entre dois mundos diferentes.




10. COERÊNCIA (Coherence), de James Ward Byrkit, 2013 | Trailer

Bom, amados, coerência é tudo o que buscamos ao tentarmos entender esse filme.

Esse é do tipo que não dá pra falar muita coisa a respeito, sob o risco de soltar spoiler. A trama é: durante um jantar, oito amigos começam a falar sobre a proximidade de um cometa, e sobre os rumores de que a passagem deste corpo celeste é capaz de trazer mudanças graves no comportamento das pessoas. Logo após a discussão, a luz acaba, e estranhos fenômenos começam a acontecer com os convidados, questionando a noção de realidade.

É provável que o cérebro dê uma bugadinha? Sim. A dica é prestar o máximo de atenção nos detalhes, diálogos, interações entre personagens e ir montando as peças aos poucos. Reza a lenda que os atores improvisaram em grande parte do tempo, o que só deixa as coisas melhores.

Aliás, não: melhor ainda é ter o filme completo legendado no Youtube, neste link.




9. TULLY, de Jason Reitman, 2018 | Trailer

Rainha Charlize Theron está de volta, junto com este colírio para meus olhos chamado Mackenzie Davis (aquela coisinha preciosamente tímida do episódio San Junipero, de Black Mirror), em um roteiro sagaz assinado pela Diablo Cody (de Juno).

Tully talvez faça muitas mulheres em dúvida desistirem de serem mães. É uma reprodução bem verdadeira da realidade que muitas mães vivem com filhos pequenos e pouca ajuda em casa do marido; lidar com choros constantes, noites mal dormidas, pirraça das crianças, cozinhar pra família, resolver problemas do dia a dia, contornar o estresse, tentar não absorver frustrações e raramente ter um tempinho de qualidade pra si. No filme, essa é a vida de Marlo, até que ela aceita o presente que seu irmão bem sucedido oferece: uma babá noturna, Tully, para ajudá-la com o bebê recém-nascido. No começo, Marlo parece cautelosa até demais, mas, aos poucos, se surpreende com a mocinha.

Não é a ideia mais original do mundo, mas o filme me conquistou com pouco tempo de duração, pelo ritmo, diálogos afiadinhos, a atuação da Charlize e a própria crueza da situação. O desfecho foi a cereja do bolo.




8. O SACRIFÍCIO DO CERVO SAGRADO (The killing of a sacred deer), de Yorgos Lanthimos, 2017 | Trailer

Vida longa ao estúdio A24 e a Yorgos Lanthimos. O cara é conhecido por dirigir filmes "bizarros" e incômodos, como Dente canino e O lagosta (tem ainda o favoritíssimo do Oscar 2019, A favorita (rs), sem data de estreia no Brasil), e O sacrifício do cervo sagrado entrou para a lista no ano passado.

A história segue Steven, um cardiologista conceituado que é casado com Anna, com quem tem dois filhos. Já há algum tempo ele mantém contato frequente com o adolescente Martin (vivido pelo INCRÍVEL Barry Keoghan), para quem costuma dar presentes e, um dia, decide apresentá-lo à família. Entretanto, quando Martin não recebe mais a atenção de antigamente, começa a agir de modo (ainda mais) estranho.

Acho difícil relaxar assistindo a esse filme, porque sempre tem alguma coisa pra te deixar desconfortável. Seja o modo robótico (e proposital) dos personagens, a cena inicial que mostra um coração pulsando, a trilha sonora, a dinâmica sexual do casal, a fotografia seca, as várias camadas da narrativa ou a própria referência à história do sacrifício de um cervo sagrado (vale a pena se inteirar a respeito).




7. UMA NOITE DE 12 ANOS (La noche de 12 años), de Álvaro Brechner, 2018 | Trailer

Já pode preparar o controle remoto, porque esse filme está na Netflix! YAY! Baseada em fatos, a história se passa durante a ditadura militar no Uruguai, em que três homens – entre eles, o ex-presidente Mujica – são submetidos a um experimento com um único propósito: um caminho em direção à loucura. Trancados em pequenas masmorras por mais de uma década, com pouca luz, comida e higiene, sem comunicação e sono de qualidade, os reféns travam uma batalha para escapar de uma realidade além dos limites da imaginação.

É de cair o cu da bunda ver o que esses caras passaram. Apesar do ritmo um pouco lento, pelo menos pra mim foi fácil me envolver ora com a dor dessa tortura sem fim, ora com os momentos de resistência e sonhos de uma nova vida numa futura democracia, cheia de possibilidades de recomeços. Fazia tempo que eu não me emocionava com uma música tão bem encaixada em um filme (há uma versão perfeita de The sound of silence aqui). Ah, e é estrelado pelo filho do grande Ricardo Darín.




6. NASCE UMA ESTRELA (A star is born), de Bradley Cooper, 2018 | Trailer

Eu não assisti às versões anteriores a esse remake de Nasce uma estrela, mas ele tá ó:


Cinéfilos de plantão comentaram que Bradley Cooper mexeu o suficiente os pauzinhos a ponto de a história ser praticamente nova. Se é verdade ou não, porque a bonita aqui não sentou a bunda pra pesquisar sobre eu sei que o que ele fez tem o selo Vem Aqui Rapidão© de aprovação: eu gostei tanto de Nasce uma estrela que quase voltei ao cinema para assistir pela segunda vez.

O experiente músico Jackson Maine descobre a jovem artista desconhecida Ally, por quem acaba se apaixonando. Ela está prestes a desistir de seu sonho de se tornar uma cantora de sucesso, até que Jack a convence a mudar de ideia. Porém, apesar de a carreira de Ally decolar, o relacionamento pessoal entre os dois começa a desandar, à medida que Jack luta contra seus próprios demônios e problemas com álcool.

A jornada da ascensão e queda de um artista plus uma história de amor tocante plus músicas que grudam na playlist. Cooper está ótimo em seu personagem problemático, Lady Gaga também performa bem pra uma pessoa sem a experiência de uma grande atriz (está com boas chances de concorrer ao Oscar, talvez mais pelo buzz, porque num me entra) e Shallow está praticamente em posse da estatueta de Melhor Canção Original.

Aliás, obrigada, Bradley, por mostrar que mulheres de nariz grande têm seu lugar sob o sol.




5. HEREDITÁRIO (Hereditary), de Ari Aster, 2018 | Trailer

POXA, QUASE NENHUM DEFEITO.

O que dizer do melhor filme de terror do ano que pode até levar Toni Collette para o Oscar? Essa outra bela obra distribuída pela A24 ganhou textão excrusivs que você lê aqui.

Um possível futuro clássico do gênero, Hereditário narra a trajetória da família Graham, que, após a morte da reclusa avó, começa a desvendar algumas coisas. Mesmo após a partida da matriarca, ela permanece como se fosse um sombra sobre as pessoas, especialmente sobre a solitária neta adolescente, Charlie, por quem ela sempre manteve uma fascinação não usual. Com um crescente terror tomando conta da casa, a família explora lugares mais escuros para escapar do destino que herdaram.

O longa não tem um puto dum jumpscare e vai te deixar perturbado. Está dentro da "nova onda de filmes de terror", tem mais de uma camada de interpretação e talvez "não seja pra todo mundo" mesmo.




4. TRAMA FANTASMA (Phantom Thread), de Paul Thomas Anderson, 2017 | Trailer

Eu amo o nome desse filme. E amei apreciar todo o charme desse homão sugar-daddy Daniel Day-Lewis por 130 minutos.

A história de roteiro impecável acontece na década de 1950. Reynolds Woodcock é um renomado e confiante estilista que trabalha ao lado da irmã, Cyril, para vestir grandes nomes da realeza e da elite britânica. Sua inspiração surge através das mulheres que, constantemente, entram e saem de sua vida. Mas tudo muda quando ele conhece a forte e inteligente Alma, que vira sua musa e amante.

O figurino é um show à parte. A trilha sonora, brilhante. As atuações, incríveis. Um drama com toques de suspense que retrata a forma como o trabalho pode consumir alguém, relações doentias, controle, posse, luta de classes. Uma bela despedida de Daniel Day-Lewis à sua carreira. 

"Beije-me, garota, antes que eu adoeça."




3. TIRANOSSAURO (Tyranossaur), de Paddy Considine, 2011 | Trailer

Se eu tivesse que escolher uma só palavra pra definir Tiranossauro, seria CRU.

Gosto demais de narrativas com essa pegada focada na verdade das coisas da vida, sem firulas, maquiagem, romantismo. Provavelmente foi isso que me envolveu nesse filme, somado à atuação magistral da Olivia Colman (da série Broadchuch), que FINALMENTE será reconhecida em Hollywood por meio de A favorita, com uma indicação quase certa na categoria de Melhor Atriz do próximo Oscar.

Em Tiranossauro, conhecemos Joseph, um viúvo atormentado, desempregado, violento e alcoólatra, que passa a vida descontando sua raiva ao mundo. Um dia, ele conhece a religiosa Hannah, dona de um brechó de caridade. Apesar das diferenças entre os dois, o jeito acolhedor dela faz com que eles desenvolvam uma forte amizade. Ligados pelo desamparo, Joseph e Hannah precisam encontrar um caminho para suas vidas.

O gosto que fica é de amargor e doçura, com um pingo de tristeza. "A vida é assim", injusta, e quem somos nós pra julgarmos as motivações das pessoas? Que tiranossauros escondemos enterrados no nosso quintal?

Sei lá, não assistam num dia ruim.

"Só queria olhar para você: Não queria conhecê-la porque eu sabia que você teria suas próprias merdas. Você não seria perfeita e eu não queria perder aquele sentimento."




2. TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME (Three billboards outside Ebbing, Missouri), de Martin McDonagh, 2017 | Trailer

Boas-vindas ao filme que deveria ter ganhado o Oscar de 2018 no lugar de A forma da água (HIHIHI).

Inconformada com a ineficácia da polícia em encontrar o culpado pelo brutal assassinato de sua filha, Mildred Hayes (interpretada maravilhosamente pela Frances McDormand) decide chamar atenção para o caso não solucionado alugando três outdoors em uma estrada raramente usada. A inesperada atitude repercute em toda a cidade e suas consequências afetam várias pessoas, especialmente a própria Mildred e o Delegado Willoughby, responsável pela investigação.

Eu acho esse filme apenas perfeito. Uma história forte sobre justiça, poder e vingança que envolve personagens com atitudes controversas, mas multidimensionais e, justamente por isso, extremamente humanos, que fazem com que nos identifiquemos. E o roteiro, muito bem amarrado, não subestima a capacidade do espectador de entender as entrelinhas.




1. PROJETO FLÓRIDA (The Florida Project), de Sean Baker, 2017 | Trailer

Meu filme favorito assistido em 2018 também tem um texto só pra ele no blog, que está aqui.

Assim como em Tiranossauro, Projeto Flórida me conquistou pela maneira realista como trata parte da população que vive de forma precária, sonhando com dias melhores ou apenas se conformando que eles nunca virão, e tentando do melhor jeito possível preservar a inocência de quem ainda não foi castigado pela "vida como ela é". É isso que se esconde na sinopse vaga do filme, apresentando Moone, uma garota de seis anos que vive no Castelo Mágico, um motel na Flórida, nas sombras da Disneylândia. Durante o verão, ela se aventura com seus amigos e co-residentes enquanto lida com sua rebelde, mas atenciosa mãe.

Projeto Flórida é vívido, palpável, sem filtros e de metáforas tristes, que entrou pra minha lista de filmes favoritos de todos os tempos, me deixando anestesiada após o seu final absolutamente triunfante. Palmas para o diretor Sean Baker, que extraiu interpretações fantásticas da menininha Brooklynn Prince, da estreante Bria Vinaite (parece que ele a encontrou no Instagram) e de Willem Dafoe, que deveria ter ganhado a estatueta no ano passado e nada mais importa se não for minha a opinião.   



Inhaí, o que acharam? Muitos filmes em comum com a sua listinha? Poucos? Nenhum? Vamos conversar nos comentários. :-)

Se quiser ver meus rankings dos anos anteriores, aí vão os links: melhores filmes de 2017, melhores filmes de 2016, melhores filmes de 2015 e melhores filmes de 2014.


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